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CRÍTICAS AO SIONISMO OU ANTISSEMITISMO? NARRATIVAS SOBRE ISRAEL E A QUESTÃO PALESTINA EM REPORTAGENS, MEMÓRIAS E AUTOBIOGRAFIAS EM QUADRINHOS
Vinícius Pedreira Barbosa da Silva

Última alteração: 2019-06-16

Resumo


Resumo: Este artigo busca analisar de que forma narrativas acerca de Israel e a questão da Palestina são construídas a partir de cinco produções em quadrinhos sobre o conflito israelopalestino, abordando questões do sionismo e antissemitismo.

Palavras-chave: Sionismo; antissemitismo; quadrinhos; narrativas; Israel-Palestina.

O movimento político sionista tem suas origens em meados do século XIX, fruto da emergência de uma ideologia nacionalista judaica em busca da autodeterminação do povo judeu e necessidade de um Estado nacional judaico. De acordo com Norman Finkelstein (2004), o sionismo surgiu dividido em três vertentes: o político; o trabalhista; e o cultural. Em comum, o discurso de construir uma maioria de judeus na Palestina. Embora trouxessem argumentos diferentes de como isso deveria ser realizado, as narrativas políticas sionistas alinhavam-se com uma percepção colonialista sobre a terra santa – assim chamada por muçulmanos, cristãos e judeus. Fortalecida com o crescente antissemitismo europeu no mesmo período, a busca de construção de um Estado judeu na Palestina ganhou força, desembocando na implementação de Israel em 1948, após a 2ª Guerra Mundial e os horrores do holocausto nazista. Como consequência desses eventos, agravou-se o conflito israelo-palestino sobre o território, cuja historicidade transformou a disputa em uma das questões geopolíticas de maior duração da contemporaneidade. É importante enfatizar, contudo, que há uma diferença conceitual entre antissemitismo e antissionismo para darmos prosseguimento ao nosso estudo. O antissemitismo, em sua origem etimológica, vem da palavra ‘semita’, cuja significação engloba povos árabes, malteses, etíopes, entre outros, do Oriente Próximo. Entretanto, segundo Leonardo Schiocchet (2015), a utilização do termo ‘semita’ referindo-se apenas aos judeus teve crescimento no início do século XX, principalmente com o preconceito racial e ascensão nazista. Por outro lado, o antissionismo diz respeito à oposição de muitos dos preceitos e medidas adotadas pelo movimento sionista. Nesse sentido, como referencial teórico, utilizaremos autores como Judith Butler (2017), Leonardo Schiocchet (2015), Hannah Arendt (1989), Norman Finkelstein (2004) e Edward Said (2003) na contextualização da discussão sobre judaísmo, sionismo e a questão da Palestina. Para o corpus de análise, serão selecionados trechos de cinco obras: Palestina (2011) e Notas sobre Gaza (2010), de Joe Sacco; Crônicas de Jerusalém (2013), realizado por Guy Deslile; Not the Israel my parents promised me (2014), produzido por Harvey Pekar e JT Waldman; e How to understand Israel in 60 days or less (2011), de Sarah Glidden;. Dentre estes autores, é interessante pontuar, Pekar e Glidden são judeus estadunidenses46 , enquanto Sacco é maltês naturalizado norte-americano e Deslile é canadense; fatos que pretendemos verificar se podem influenciar na abordagem do tema de alguma maneira. De forma geral, as principais diferenças entre as publicações estão nas formas narrativas de cada uma e na estética de apresentação das histórias – transitando entre jornalismo, memórias e autobiografias (com forte aproximação aos relatos de viagens). Para a análise, nos basearemos nos preceitos teórico-metodológicos da Análise Crítica da Narrativa (MOTTA, 2013) em combinação com o Sistema dos Quadrinhos (GROENSTEEN, 2015). Portanto, nosso objetivo geral neste artigo é compreender de que modo produções contemporâneas em quadrinhos sobre a temática narram e representam a questão Palestina e o Estado de Israel, com as contradições cotidianas inerentes, tanto para judeus quanto para palestinos. E, ao entendermos os quadrinhos como objeto de estudo cada vez mais consolidado no campo da Comunicação, nossos objetivos específicos são: compreender se há discursos antissemitas e/ou críticas ao sionismo nas obras; e identificar as possíveis convergências ou divergências na produção das diferentes visões sobre a significação do conflito e de Israel.

Referências

ARENDT, H. Origens do totalitarismo. São Paulo: Companhia das Letras, 1989.

BUTLER, J. Caminhos divergentes: judaicidade e crítica do sionismo. São Paulo: Boitempo, 2017.

FINKELSTEIN, N. G. Imagem e realidade do conflito Israel-Palestina. Rio de Janeiro: Record, 2005.

GLIDDEN, S. How to understand Israel in 60 days or less. New York: DC Comics, Vertigo, 2011.

ROENSTEEN, T. O sistema dos quadrinhos. Nova Iguaçu, RJ: Marsupial Editora, 2015.

MOTTA, L.G. Análise Crítica da Narrativa. Brasília: Universidade de Brasília, 2013.

PEKAR, H.; WALDMAN, J. T. Not the Israel my parents promised me. New York: Farrar, Straus & Giroux, 2013.

SACCO, J. Notas sobre Gaza. São Paulo: Companhia das Letras, 2010. ______. Palestina: edição especial. São Paulo: Conrad, 2011. SAID, E. W. Cultura e Política. São Paulo: Boitempo, 2003.

SCHIOCCHET, L. Por uma Antropologia Assimétrica da Palestinidade. In: SCHIOCCHET, L. (Org.). Entre o Velho e o Novo Mundo: a Diáspora Palestina Desde o Oriente Médio. São Paulo: Chiado Editora, 2015.