Portal de Conferências da UnB, I Jornada Discente de Pesquisa em Comunicação - PPGCom FAC/UnB (2017)

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A TRANSGRESSÃO E A METÁFORA DA LEMNISCATA
Luis Flávio Luz Flávio Luz

Última alteração: 2019-06-16

Resumo


Resumo: Apresentação de método usado para estudo do tema da transgressão como infinita produtora de diferença. Estudo esse que tem como premissa a afirmativa de Georges Bataille, que relaciona transgressão ao erotismo como afirmação da vida.

Palavras chave: Transgressão, Infinito, Poética, Erotismo

Neste trabalho interessa apresentar o método usado em pesquisa sobre o tema da transgressão realizada no campo da Estética da Comunicação. O objetivo é demonstrar a necessidade de refletir uma teoria do tropo, dos atos de linguagem, a partir daquilo que chamamos de poética da transgressão. Nos afastamos da definição de transgressão como algo que vai contra a regra para refletir o tema com o auxílio da noção de infinito e constatar a contínua produção de diferença e alteridade. Utilizo a premissa de Georges Bataille que apresenta não uma definição, mas uma fórmula que classifica a transgressão como uma afirmação da vida até mesmo na morte. Se pensarmos essa afirmação em momentos históricos diversos percebemos que a transgressão altera os modos de funcionamento dos dispositivos, das estratégias e, consequentemente, dos sentidos capazes de influenciar os processos de construção de subjetividade e do zeitgeist. Foucault, ao escrever um texto em homenagem a Bataille, mostrou como o autor reflete sobre a mudança da relação do homem com a morte. Na modernidade, a morte passa de uma promessa ao infinito a uma nostalgia pela continuidade perdida. Para Bataille, a transgressão acontece quando, na consciência do homem, ele se coloca em questão. Ou seja, ele se torna gradativamente ciente de sua imortalidade perdida a partir de outra morte epistêmica (de Deus). Com o processo de secularização promovido pela modernidade, a humanidade passa a buscar no interior a continuidade perdida. Se a pulsão de vida (erotismo) percebia como real o exterior metafísico, na modernidade, as metáforas e sistemas de imagens que modulam a “verdade” a fazem depender do saber, da racionalidade e da verdade do interior dos homens.Utilizamos, na dissertação intitulada Poética da Transgressão – O imaginário da circulação em Estamira e Taxidermia, como corpus, dois filmes: uma obra documental intitulada Estamira, de Marcos Prado (2004) e uma ficção chamada, Taxidermia (2006), do director húngaro, György Pálfi. Outro referencial teórico, a noção de passagem à imagem, situada no campo da antropologia visual e do cinema etnográfico, nos ajudou a refletir sobre a passagem (transgressão) da realidade (e do imaginário) à imagem reproduzida, que dependeria da articulação de vários “agentes produtores da imagem” (PIAULT, 1995, p. 27). A partir dessa noção, abstraímos que, quando um elemento real “passa à imagem” ele criaria um “duplo” imagético. Abstração que nos levou ao conceito de noosfera39 e do “princípio hologramático” em que “o todo está na parte que está no todo, e a parte poderia estar mais ou menos apta a regenerar o todo” (MORIN, 2012, p.113). Pensamos cada personagem, narrativa, ideia colocada pelos filmes que analisamos (Estamira e Taxidermia) como frações de um todo em que cada parte circula pelo ambiente, criando variações de acordo com cada ponto de vista. Tentaremos demonstrar como a transgressão obedeceria um modelo similar aos princípios recursivo e hologramático de que trata Morin em O Método 3 (2012) e da noosfera, em O Método 4 (2011). Isso porque as imagens enviadas à noosfera ou ao imaginário teriam o poder de moldar, recursivamente o real e um movimento de vaivém similar ao símbolo do infinito. Para Bataille, erotismo é transgressão, um gesto, movimento em direção ao limite. Interpretação que pode também ser atribuída a ideia ou ao conceito de passagem à imagem. Esse gesto é guiado por discursos, práticas, narrativas, metáforas e representações que modulam o real, impõem ou ultrapassam limites. A transgressão é uma crítica contínua dos limites e infinita produtora de diferença. O que nos leva a ética. E como afirma Foucault, quando analisa a obra de Bataille, em um mundo ético, em um mundo partilhado, a transgressão jamais será violência.

Referências

BATAILLE, Georges. O erotismo. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2013.

FOUCAULT, Michel. A vida dos homens infames. In:_______. Estratégia, poder-saber. Ditos e escritos IV. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2003

MORIN, Edgar. O método III – O conhecimento do conhecimento. Porto Alegre: Sulina, 2012.

_____________. O método IV – As ideias: habitat, vida, costumes, organização. Porto Alegre: Sulina, 2011.

_____________. El método VI – La Ética. 1. Edição. Madrid: Ediciones Cátedra (Grupo Anaya, S.A.), 2006.

PIAULT, Marc Henri. A antropologia e a “passagem à imagem. In: Cadernos de antropologia e imagem, n. 1, 1995.

Referências fílmicas

PÁLFI, György. Taxidermia. Elenco: Csaba Czene, Gergely Trócsányi, Piroska Molnár, Adél Stanczel, Marc Bischoff, Gábor Máté, Zoltán Koppány, Géza D. Hegedüs. Nacionalidade: Hungria / Áustria / França, 2006.

PRADO, Marcos. Estamira. Nacionalidade: Brasil, 2004