Portal de Conferências da UnB, I Jornada Discente de Pesquisa em Comunicação - PPGCom FAC/UnB (2017)

Tamanho da fonte: 
O TECNICISMO NO ENSINO SUPERIOR E SUA RELAÇÃO NA EPISTEME DA COMUNICAÇÃO SOCIAL
Eula Lôbo Verde

Última alteração: 2019-06-16

Resumo


Resumo: A abordagem tecnicista nos cursos superiores e seu reflexo na legitimação da comunicação como ciência.

Palavras-chave: Tecnicismo. Comunicação. Epistemologia.

Apresentação: A relação entre a abordagem tecnicista como prática pedagógica utilizada nas Instituições de Ensino Superior e a formação de profissionais com domínio de técnicas, mas distantes das transformações sociais e da produção científica. No contexto da comunicação, questiona-se a validade da episteme da comunicação e de sua legitimação científica, uma vez que haja o apego em uma formação profissional tecnicista.

Objetivo: Questionar o tecnicismo e a importância de formar profissionais em comunicação com mais teorias e reflexões.

Procedimentos Metodológicos: Este resumo opta pelo suporte bibliográfico, através de referências creditadas pela academia.

Referencial Teórico: O Ensino Superior no Brasil, principalmente após 1992, com a nova Lei de Diretrizes e Bases (LDB), abriu caminhos para os cursos superiores privados. É oportuno destacar que os centros particulares são inerentes ao mercado e atuam no nicho da mercantilização do ensino. Sodré (2012) expõe que nestas instituições privadas os estudantes são vistos como clientes e o anseio sempre é a satisfação profissionalista desta clientela.

 

A influência do mercado na educação nos leva à abordagem tecnicista como prática pedagógica no Ensino Superior, na qual cabe às instituições formar profissionais qualificados para atender uma demanda do mercado. Libaneo (1983) esclarece que através do tecnicismo há a inserção da escola nos modelos de racionalização do sistema capitalista.

Para Adorno (1995), esta educação como apropriação do tecnicismo distancia-se cada vez mais da emancipação, ou seja, não promove a reflexão do indivíduo para que ele se torne agente de transformação social. Assim como Freire (1996), que defendeu uma educação para a autonomia, que consolidasse saberes dos alunos e professores em transformações sociais.

O ensino superior em comunicação social também se apega a técnica. O comunicólogo deve manusear suas ferramentas com precisão, porém as instituições formadoras devem preocupar-se com o caráter reflexivo deste profissional e com a validade de sua formação científica. Martino (2006) elucida que a atividade jornalística não é incompatível com a técnica, mas demanda formação continuada prolongada, pois forma os responsáveis pela gestão dos espaços organizadores da dinâmica social.

Muniz Sodré (2012) reitera que os discursos podem legitimar um pensamento de pragmatismo, que nem sempre contextualiza à sociedade ou ao menos a fragiliza em sua humanidade. O profissional de comunicação tem importantíssimo papel social, portanto valores humanos e habilidades devem ser trabalhados, e isto passa pelos centros de formação.

Além disso, caso optemos por uma abordagem tecnicista, faz sentido o questionamento da obrigação do curso superior para atividade profissional de comunicação. Para a coerência do diploma, é preciso uma formação que se aproxime de uma educação reflexiva e com caráter científico.

Considerações: É preciso aprofundar o debate da influência tecnicista aliada a formação do ensino superior, tão como discutir como a mercantilização do ensino tem-se estabelecido. A comunicação está neste processo e testa sua validade enquanto ciência por estar cada vez mais tecnicista e, em contrapartida, menos teórica e reflexiva. Não há rejeição às técnicas ou ao mercado, mas sim há a demonstração que somente seu fascínio pode fragilizar sua episteme científica e distanciar o caráter autônomo e social da comunicação.

O tecnicismo aponta individualismos profissionais e, portanto, se afasta das transformações sociais e de seu entorno científico. Desviar do enquadramento neoliberal e tecnicista, pode trazer autonomia ao comunicólogo e fazer ascender a ciência da comunicação a outro patamar, pois teremos profissionais com capacidades para reflexão, crítica, iniciação científica e legados históricos.

Referências:

ADORNO, Theodor W. Educação e Emancipação. Tradução: Wolfgang Leo Maar. São Paulo: Editora Paz e Terra, 1995.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996.

LIBANEO, José Carlos. Tendências Pedagógicas na Prática Escolar. Revista da Associação Nacional de Educação – Ano 3 – nº 6, 1983.

MARTINO, Luiz C. Os cursos de teoria da comunicação luz do jornalismo - obstáculos e impropriedades das posições tecnicista e intelectualista. In LÍBERO - Ano IX - nº 17 – Jun/2006.

SODRE, Muniz. Comunicação: um campo em apuros teóricos. In Revista Matrizes, Ano 5 – nº 2, jan/junho 2012.