Última alteração: 2019-06-16
Resumo
Resumo: Tomando-se a fotografia como tema, questiona-se o seu estatuto como objeto de estudo no campo da Comunicação. Observa-se na bibliografia consultada, que as reflexões sobre a fotografia se encontram dispersas e carecem de uma atenção epistemológica.
Palavras-chave: Comunicação. Fotografia. Tecnologia. Teoria.
O presente trabalho é o resumo da problematização sobre o “lugar” da fotografia como objeto epistêmico no campo da Comunicação. O problema se apresenta com a falta de referências que permitam pensar a fotografia como um fenômeno comunicacional. Nos textos previamente analisados, evidencia-se a prevalência do caráter estético da fotografia, seja ela uma obra de artista, ou como parte de um processo de criação tido como artístico. Assim, formula-se como hipótese que a fotografia é tratada como um objeto estranho ao campo da Comunicação e carece de um referencial próprio, distinto dos pressupostos e teorias formuladas por outras disciplinas e campos do conhecimento.
Se há um consenso sobre a fotografia é o de reconhecê-la como um objeto ambíguo que confunde muitos dos que a estudam. Dependendo do contexto, “fotografia” pode ser uma imagem sobre em um suporte qualquer, pode ser entendida como uma tecnologia que produz e reproduz uma imagem, ou ser a qualidade de uma representação que faça ver algo como real. A ambiguidade da fotografia se manifesta também no seu poder de representação do mundo, quando o real, a fantasia e a abstração se confundem. Em outras palavras, a fotografia inquieta por sua aparente objetividade e sua inerente subjetividade.
Da ambiguidade da fotografia aparece a naturalização como problema epistemológico, ora a fotografia é uma representação do real e objeto do senso comum, ora ela é representação de uma fantasia ou abstração e objeto do campo da Arte. O que se propõe é sair dessa armadilha, reconhecendo naquilo que na fotografia parece ser o seu obstáculo epistemológico. Dessa forma, observamos o que Gaston Bachelard identificou como “a experiência primeira”: “Não se pode basear nada na opinião: antes de tudo é preciso destruí-la”. (1996, p. 18) Seguindo seu ensinamento, foi que buscamos exemplos para a construção da fotografia como um objeto comunicacional.
Paradoxalmente, tomamos como referência o trabalho do historiador da arte Erwin Panofsky (1892-1968), que distingue as obras de arte dos objetos práticos: “ferramentas ou aparelhos” e “veículos de comunicação” (1991, p. 31). A distinção de Panofsky possibilita observar na ambiguidade de um objeto a intenção daquele que o manipula e, assim, deixar claro a qualidade que se quer tomar para o estudo. Dessa forma, a fotografia pode ser abordada na condição de um objeto de arte ou prático, e neste último, observar o fenômeno comunicacional. Para tanto, tomamos como referência o pensamento de Vilém Flusser (1920-1991) que recorre à fotografia (mais precisamente, ao aparelho fotográfico) como “caixa preta” para elaborar uma filosofia da técnica (2002), e Luiz C. Martino, que reflete sobre o conceito de “meio de comunicação” como objeto próprio ao campo da Comunicação (2016).
Para Flusser, a fotografia inaugura uma nova era, e aponta para sua função de comunicação quando aborda o fenômeno humano de produção, distribuição e armazenamento de informações herdadas e adquiridas. Flusser assevera que “a fotografia é o primeiro objeto pós-industrial” (2002, p. 47), e destaca a “onipotência” do “aparelho técnico” que, ao fim e ao cabo funcionariam como programadores do comportamento social. Dessa forma, Flusser nos faz ver a fotografia como “aparelho” a ser desconstruído para que se escape de sua programação e, para tanto, identifica os fotógrafos artistas, e não os comunicadores, como os agentes dessa “revolução”.
Resta, então, para concluir, tomar a fotografia como “veículo de comunicação”, isto é, concentrar esforços na reflexão sobre seu caráter comunicacional. A reflexão proposta envolve dois aspectos epistêmicos: o objeto de estudo e o campo de conhecimento. Assim, tomamos como referência as discussões epistemológicas feitas por Luiz C. Martino que defende o campo da Comunicação como uma disciplina acadêmica e, para tanto, coloca o “meio de comunicação” como seu objeto privilegiado (2016). Em seu artigo, Martino demonstra a pertinência de se pensar os meios de comunicação como distintos das tecnologias em geral por tratar-se não de uma extensão do corpo humano, mas uma simulação da mente, que permite interpretar a transitividade entre as formas do social. A fotografia, assim, com seu poder de simulação e reprodução técnica, pode ser observada como uma das tecnologias que transformou a forma de representar e ver o mundo.
Referências:
BACHELARD, G. A formação do espírito científico: contribuição para uma psicanálise do conhecimento. Rio de Janeiro: Contraponto, 1996.
FLUSSER, V. Filosofia da caixa preta. Ensaios para uma futura filosofia da fotografia. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 2002.
MARTINO, Luiz C. "O que é Meio de Comunicação?: um conceito esquecido", in Martino, Luiz C. Escritos de Epistemologia da Comunicação. Sulina. Porto Alegre, 2016.
PANOFSKY, E. Significado das artes visuais. São Paulo: Perspectiva, 1991.