Portal de Conferências da UnB, I Jornada Discente de Pesquisa em Comunicação - PPGCom FAC/UnB (2017)

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A Máquina de Acelerar o tempo: conversas sobre fotojornalismo contemporâneo
Alan Marques

Última alteração: 2019-06-16

Resumo


Resumo: A questão estudada está na inter-relação de meios com a procura das convergências e dos conflitos do conceito do Instante Decisivo inserido no fotojornalismo, feito anteriormente com película e agora com a fixação do real no digital.

Palavras-chaves: Fotojornalismo; Meio digital; Momento decisivo; Fotografia digital; Internet

Introdução:

É importante me apresentar antes de seguir neste texto, porque o meu envolvimento no processo de análise proposto tem o primórdio na visão de ofício e no posicionamento de dentro para fora do ser. Fico aqui de pé para dizer que sou fotojornalista com 27 anos de exercício. A inferência deste estudo surge da curiosidade nascida na alma de um repórter de imagem, configura-se ao observar o sujeito que, anteriormente, formara-se no raciocínio da captura do mundo com filme fotográfico e, na atualidade, caça à luz do seu tempo com câmeras fotográficas digitais. Os campos problemáticos contemporâneos desta proposta são pontos de reflexão epistemológicos sobre o ser-fotojornalista em movimento e em adaptação as exigências impostas pela sede do leitor por informação precisa e veiculadas em mundo pautado pela urgência. O estranhamento que canalizou as energias desses estudos começa nos ajustes técnicos que diferenciavam a operação da fotográfica digital e a feita com película. Seque pela lógica usada para manusear o equipamento, em um primeiro momento e se confronta com a modulação da maneira de pensar a captura dos signos e o alinhamento da informação visual. O raciocínio fotojornalístico que modula o destino da fotografia da eternidade de documento no jornal ou a extinção com o apertar do delete.

Metodologia:

A premissa escolhida para a pesquisa repousa no livro, de 1952, Images à la Sauvette (traduzido para o português como O Instante Decisivo), de Henri Cartier-Bresson (1908- 2004), que traz para gerações de fotojornalistas definições basilares de formas de pensar e de fazer reportagem visual. A pergunta feita no estudo parte da expectação de um momento síntese definido no século passado pelo fotógrafo Cartier-Bresson, e na pesquisa na contemporaneidade, se esse conceito ecoa no pensar e no fazer do fotojornalista brasileiro e em sua captura do mundo visível armado com máquina digital. Para seguir no estudo, foi usado o conceito de ontogênese apresentado no livro A Máquina de Esperar, de Maurício Lissovsky. Nele, o autor explica que não se pode aprender o primórdio como o “início” de algo, mas com o processo de apresentação de “sua história” 34 . O livro Introdução à Análise da Imagem, de Martine Joly, foi o caminho usado nesta procura pelo conhecimento e se ampara no diagnóstico de que a fotografia “passa por alguém que a produz ou reconhece” e sua compreensão depende da “produção de um sujeito”. Vai além, já que não há passividade na leitura de uma foto, porque a gnose prévia acumulada transforma a relação do leitor com o instantâneo.35 A proposta de método para o estudo começa com pesquisa biográfica de Henri CartierBresson para entender a atmosfera de onde fecundou o trabalho vigoroso do fotógrafo. Prossegue com a leitura do livro Images à la Sauvette, dos textos produzidos por CartierBresson e suas entrevistas. Leva-se em consideração a arquitetura do ambiente atual, onde a internet e as inúmeras ferramentas digitais, envolvedora da fotografia, configuram toda a forma de comunicação e de mediação de fatos noticiosos. A questão a ser tratada na dissertação, portanto, está na inter-relação de meios, onde se procura as convergências e os conflitos do raciocínio e da execução para se desvendar o movimento do instante decisivo no fotojornalismo contemporâneo.

Resultado e discussão:

A discussão se forma ao se apreciar o deslocamento da escolha da imagem síntese em uma notícia, primeiro captura no meio filme negativo e depois no meio filme digital. Como resultado; apresentou-se no estudo a visão de um organismo fecundo e maleável que se revela conforme as forças problemáticas lhe dão linhas mais definidas, onde a transformação da coisa e de quem a observa está tanto na concentricidade como na divergência.

Conclusão:

Do estudo esboçou as características do fotojornalista contemporâneo e vislumbrou seu papel na sociedade conectada pela internet. Foram feitas 20 entrevistas com fotojornalistas brasileiros que, a partir da análise de uma imagem de sua autoria, apontaram os campos problemáticos enfrentados no fazer e pensar da fotografia com película e digital.

Referências bibliográficas:

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CARTIER-BRESSON, Henri. O imaginário segundo a natureza. Tradução: Renato Aguiar. São Paulo, SP: Editoria G. Gili, 2004.

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CRARY, Jonathan. Técnicas do observador – Visão e modernidade no século XIX. Rio de Janeiro, RJ: Contraponto Editora, 2012.

DUBOIS, Philippe. O Ato Fotográfico e outros ensaios. Tradução: Marina Appenzeler. 8a Edição. Campinas, SP: Papirus Editora, 2004.

FEIJÓ, Marcelo. Ecco Educativo. Vol. 24. Exposição Retrospectiva – Roberto Polidori. Fotografia: A Cidade e o Tempo. Material didático para professores. Rio deJaneiro, RJ. Instituto Moreira Salles.

FREUND, Giséle. Fotografia e Sociedade. Lisboa, Vega, 1995. JOLY, Martine. Introdução à análise da Imagem. 14ª Edição. Tradução: Marina Appenzeller. Campinas, SP: Papirus Editora, 2014