Portal de Conferências da UnB, I Jornada Discente de Pesquisa em Comunicação - PPGCom FAC/UnB (2017)

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JORNALISMO DE MÚSICA: REFLEXÕES DE RICARDO ALEXANDRE E DE ANDRÉ FORASTIERI SOBRE ESTE SUBTEMA JORNALÍSTICO
Djenane Arraes Moreira

Última alteração: 2019-06-16

Resumo


Mestre em Comunicação pela Universidade de Brasília. É membro do Grupo de Pesquisa ‘Jornalismo e Construção Narrativa da História do Presente’, onde investiga temas do Jornalismo Cultural.

Resumo:

Este estudo identifica os acontecimentos que ilustram as mudanças no jornalismo cultural a partir da vivência de Ricardo Alexandre e de André Forastieri, conforme relatadas, respectivamente, em seus livros Cheguei bem a tempo de ver o palco desabar (2013) e O dia em que o rock morreu (2014).

Palavras-chave: Jornalismo de música, Análise do Discurso, Transformações do jornalismo.

Este estudo parte da seguinte pergunta: como os autores Ricardo Alexandre e André Forastieri abordam os processos que desencadearam a suposta morte do jornalismo cultural de música praticado no fim do século XX e as mudanças das estruturas que o sustentavam?

O objetivo do estudo é identificar os acontecimentos que ilustram as mudanças ocorridas no jornalismo a partir da vivência profissional de Alexandre e de Forastieri (2014), iniciada no final do século XX e relatada nos livros Cheguei bem a tempo de ver o palco desabar (2013) e O dia em que o rock morreu (2014) já neste século XXI. Os dois trabalhos compõem o corpus deste estudo.

Cheguei bem a tempo de ver o palco desabar é a reunião de textos mais ou menos cronológicos da carreira de Ricardo Alexandre, com suas impressões a respeito da geração do rock brasileiro dos anos 1990. Os textos foram escritos por volta de 2003 em seu blogue pessoal, com o objetivo de relembrar os primeiros 15 anos de sua carreira como jornalista cultural de música.

O dia em que o rock morreu é uma coletânea de 40 textos escritos por André Forastieri em órgãos de imprensa nos quais trabalhou – entre outros, Folha de S. Paulo, revistas Bizz e General, e os portais G1, da Rede Globo, e R7, da TV Record.

Para analisar os dois livros selecionados, foi utilizado o caminho das seis leituras interpretativas em massa folhada, desenvolvido pelo hermeneuta brasileiro Sérgio Dayrell Porto (2010). Com o propósito hermenêutico de compreender e explicar o objeto deste estudo, foram trabalhadas três das leituras: a parafrástica, a arqueológica e a de acontecimento. Primeiro foi feita a leitura integral dos dois livros. Em seguida, após a leitura parafrástica, foram selecionados neles os textos e os trechos que serviriam de unidades de análise.

O primeiro livro tem 255 páginas com 50 textos, nos quais se pode identificar uma cronologia a respeito da carreira de Ricardo Alexandre. Dentre esses textos, foram selecionados doze, considerados mais relevantes no desenvolvimento deste estudo. Neles, foram aplicadas as leituras arqueológica e argumentativa. O segundo livro contém 40 textos distribuídos em 183 páginas e organizados em quatro unidades temáticas, sem uma lógica cronológica.

Para as leituras arqueológica e de acontecimento foram adotados os seguintes procedimentos: (1) as informações contidas nos dois livros foram reordenadas cronologicamente para a construção de uma narrativa única sobre o jornalismo cultural de música, conforme construída pelos dois autores; (2) na narrativa deles, foram identificados acontecimentos, cuja análise foi ventilada pela visão teórica de outros autores, como os teóricos canadenses Jean Charron e Jean de Bonville (2016).

Os jornalistas, que se posicionam como sujeitos na construção da história de seu tempo, narram acontecimentos no cenário musical do rock brasileiro e internacional. Particularmente, discutem o impacto desses acontecimentos em suas respectivas carreiras ao longo da década final do século passado e na do início deste século XXI. Revelam pontos como a importância das revistas especializadas, da indústria fonográfica, do surgimento da internet, da pirataria digital e suas consequências, e de como a então renovada geração de músicos e bandas se articularam nesse cenário. Apaixonados pelo que faziam, os dois sentiram suas carreiras serem afetadas conforme os acontecimentos. A narrativa reconstruída no período de análise neste estudo mostra que, por terem visões distintas em suas carreiras, Alexandre e Forastieri deixaram o jornalismo musical em momentos diferentes.

A rota hermenêutica seguida mostrou que a música que acabou foi aquela que as gerações dos anos 1990 e anteriores compreendiam. No entanto, se a música perdeu o velho sentido, foi para ganhar novos. O paradigma do jornalismo musical mudou na medida em que a estrutura na qual a música é articulada também mudou. Um jornalismo musical distinto surgiu, porque essa é uma atividade dinâmica e, sendo assim, sempre encontra formas para continuar a existir. As novas configurações estruturais e discursivas do jornalismo cultural são portas abertas para novas investigações sobre os três acordes do rock.

Referências

ALEXANDRE, R. Cheguei bem a tempo de ver o palco desabar: 50 causos e memórias do rock brasileiro (1993-2008). Porto Alegre: Arquipélago, 2013.

CHARRON, J.; DE BONVILLE. J. Natureza e transformação do jornalismo. Florianópolis:Insular; Brasília: FAC Livros, 2016.

FORASTIERI, A. O dia em que o rock morreu. Porto Alegre: Arquipélago, 2014.

PORTO,  S.  D.  Análise  do discurso em  massa folhada: o caminho das seis leituras interpretativas. Brasília: Casa das Musas, 2010.