Portal de Conferências da UnB, I Jornada Discente de Pesquisa em Comunicação - PPGCom FAC/UnB (2017)

Tamanho da fonte: 
COMUNICAÇÃO EM ORGANIZAÇÕES CIVIS: UM EXERCÍCIO TEÓRICO-EMPÍRICO SOBRE A DIMENSÃO DA TRANSPARÊNCIA
Ana Thereza Nogueira Soares

Última alteração: 2019-06-16

Resumo


Resumo: O trabalho faz um estudo sobre a transparência, discutindo as implicações dessa perspectiva para organizações da sociedade civil. A partir da discussão, propõe categorias, indicadores e procedimentos metodológicos para análise empírica das práticas de transparência.

Palavras-chave: Organizações. Transparência. Comunicação. Visibilidade.

O estudo pretende contribuir com o debate acerca da transparência organizacional, refletindo sobre o conceito a partir de sua inextricável correlação com a comunicação e com a visibilidade mediática. A perspectiva da transparência é situada a partir de uma noção processual e das interações que envolvem as organizações. A complexidade do cenário sob análise, aprofundada ainda mais com a onipresença da Internet e de seus dispositivos, afeta diretamente o fenômeno da transparência, assinalando os limites de teorias prescritivo-normativas que se propõem a explicá-lo. Assim, o objetivo principal da reflexão é o de alargar o panorama da discussão, entendendo as nuances da transparência a partir de sua relação com as organizações, a comunicação e o poder, e propondo, a partir disso, novas arenas de investigação empírica.

Num primeiro momento, exploram-se teoricamente algumas categorias conceituais da transparência. Sobretudo, demonstra-se que o processo da transparência tem como um elemento central as organizações e suas lutas por legitimidade social. Faz-se, em seguida, uma reflexão acerca da transparência em organizações civis, entendendo-as em suas especificidades comunicacionais. A proposta é subverter a análise, tradicionalmente focada no funcionamento e necessidades de entes governamentais e empresariais. Espera-se que tal movimento ajude a mapear novas categorias, para entendermos aquilo que é designado como transparente, como um objeto sujeito à mediação de grupos políticos, os quais detêm parcelas relativas de recursos e conhecimento tanto sobre a apropriação de dados governamentais e corporativos, como sobre o gerenciamento de sua própria visibilidade. A primeira necessidade das organizações civis, afinal, é a de constituírem-se como entes capazes de alcançarem reconhecimento social. Neste percurso, a sociedade enfrenta, em geral, a escassez material de recursos, o que pode servsuperado, pelo menos em parte, pelo poder da Internet.

 

Em uma outra frente análise, a crescente tendência dos dados abertos, especialmente na esfera governamental, é um ganho consequente da evolução da transparência e da tecnologia, que não conta com estudos aprofundados acerca do que estes dados têm oferecido à sociedade em termos de benefícios. Avaliar tais informações de forma compreensiva e abrangente é tarefa difícil, uma vez que isso também depende de conhecimento técnico especializado acerca das dinâmicas da Internet, do fenômeno do Big Data e de análise quantitativa de dados. Mapear e compreender o que grupos e organizações civis têm feito com a transparência governamental e empresarial é projeto de investigação relevante e urgente. Afinal, diante da velocidade dos avanços tecnológicos e da imensidão de dados hoje disponibilizados aos cidadãos, pesquisas consistentes e tempestivas sobre tais dinâmicas de recepção e mediação dos conteúdos para parcelas mais amplas da sociedade podem contribuir, reflexivamente, e com a rapidez exigida por nosso tempo, para a concretização dos propalados ideais da transparência.

A ideia, assim, é de elaborar categorias de análise que permitam mensurar as capacidades institucionais e técnicas dessas organizações, bem como seus projetos e práticas vinculados à transparência. Importa conhecer, entre outros fatores, quem são esses grupos, que tipo de posicionamento mantêm em relação ao Estado e ao mercado, como manejam suas estruturas de comunicação e alcançam visibilidade social. Afinal, se em essência tais organizações precisam do discurso da transparência para validar seus ideais de defesa do interesse coletivo, é preciso saber   como   se   adaptam   às   contingências   e   restrições   materiais  para realizarem uma comunicação  efetiva com a sociedade.

Referências:

CHRISTENSEN, Lars T.; CHENEY, George (2015). “Peering into Transparency: challenging ideals, proxies, and organizational practices” In: Communication Theory. 25, pp. 70-90. ETZIONI, Amitai (2010). “Is Transparency the Best Desinfectant?” In: The Journal of Political Philosophy. Vol. 18, Number 4, pp. 389-404.

FLYVERBOM, Mikkel (2016). “Transparency: mediation and the management of visibilities”. In: International Journal of Communication. Vol. 10, pp. 110-122.

O´NEILL, Onora (2006). “Transparency and the Ethics of Communication”. In: Hood, Christopher, Heald, David (eds.) Transparency. The key to better governance? New York: Oxford University Press, pp. 75-90.

SILVA, Sivaldo Pereira da (2016). “Transparência Digital em Instituições Democráticas. Horizontes, limites e barreiras”. In: Mendonça, Ricardo F.; Pereira, Marcus A.; Filgueiras, Fernando (orgs.). Democracia Digital. Publicidade, instituições e confronto político. Belo Horizonte: Ed. UFMG, pp. 27-53.