Portal de Conferências da UnB, I Jornada Discente de Pesquisa em Comunicação - PPGCom FAC/UnB (2017)

Tamanho da fonte: 
LABIRINTO COMO ARQUITETURA NARRATIVA NAS PÁGINAS DOS QUADRINHOS
Raimundo Clemente Lima Neto

Última alteração: 2019-06-13

Resumo


Doutorando da Faculdade de Comunicação da Universidade de Brasília. Linha de Imagem, Som e Texto. Orientadora: Profa. Doutora Selma Regina Nunes Oliveira

Resumo: Este artigo fornece uma visão inicial da construção de uma metodologia de trabalho que parta da imagem da página da HQ como labirinto ordenador de uma experiência narrativa característica, trazendo autores que abordem o espaço em suas reflexões para refletir sobre a página impressa

Palavras-chave: Comunicação, Imagem, Espaço, Histórias em Quadrinhos.

A articulação entre espaço, visão e imagem pode ser isolada como a experiência criadora comum que amarra o homem primitivo diante da parede da caverna ao ilustrador contemporâneo confrontando a superfície ainda imaculada de uma folha de papel (ou tela de computador). Com o desenvolvimento do ser humano, o vazio dessas telas – inicialmente preenchidas de pulsões afetivas – vai sendo tomado por linhas imaginárias e formas abstratas que tentam ordenar o espaço. A partir de Gutemberg, e a composição tipográfica, esta preocupação espacial se espalha e se populariza. O final do século XIX e início do século seguinte estabelecem as condições para que estas linhas invisíveis da superfície em branco passem a ganhar visibilidade a partir dos experimentos de diagramação das publicações em massa: o cartaz publicitário, os livretos de teatro, a página de jornal e a página de Quadrinhos. Dentre os poucos exemplos citados, é notável como as Histórias em Quadrinhos lançam mão deste pensamento compositivo para explorações narrativas, absorvendo o vazio gráfico para dentro de seu sistema amalgamado de comunicação. Com o desenvolvimento de uma indústria em torno na HQ ocidental, e de maneira muito mais acentuada nos comics da América do Norte, as possibilidades de composição da página de HQ são reduzidas de modo a obedecer uma estandardização do processo criativo, visando facilitar a venda das tiras de jornal e das “comic books” para o mercado internacional. A proposta deste artigo é expor os primeiros passos exploratórios que buscam clarear esta relação da HQ com a página em branco, a partir da concepção da página de Quadrinhos como um labirinto invisível que revela-se com a articulação da narrativa com o espaço. Esta reflexão nasce a partir do atravessamento dos conceitos de artrologia geral e artrologia restrita da página de HQ, como levantados por Thierry Groesteen, pelas noções de superfície de Villém Flusser e os achados sobre a poética do espaço de Gaston Bachelard. Neste viés, a página de Quadrinhos se apresenta como uma imagem técnica reveladora, em sua matriz de pensamento, de uma relação orientadora do espaço que é marca do amadurecimento da sociedade industrial no final do séc. XIX. A ordenação e subdivisão do espaço urbano, se adequando ao aumento acelerado do número de habitantes, se reflete no grid compositivo da página de jornal e este, por sua vez, impõe suas medidas a página do quadrinho industrial, que prosperou graças ao emprego da mão de obra barata dos mesmos imigrantes que habitavam os cortiços subdivididos da metrópole. Desta forma a página impressa da HQ é um labirinto de salas e corredores que se articulam no espaço estandardizado, mas seu objetivo transitará entre o revelar de uma narrativa linear de comunicação direta, e a proposição de experiências visuais mais abertas e ambíguas que exploram as possibilidades compositivas de sequências de imagens em uma superfície (exploração, aliás, que ocorre simultaneamente ao início da formatação que a imprensa impõe nos EUA, e que somente verá um retorno na produção independente daquele país. Espera-se que a partir do levantamento e categorização destas problemáticas da página da HQ, seja possível desenvolver uma metodologia de trabalho que parta desta imagem do layout como labirinto que revela, como uma planta baixa. Apesar de citado, o Quadrinho estadunidense é apenas um ponto de partida conveniente, por se tratar de uma influência de presença marcante no mercado internacional, a intenção da tese é prospectar estes dados visuais a partir da produção nacional de HQ´s. Este processo será posto a teste no desenvolvimento de uma narrativa-laboratório, cujos achados e produtos fazem parte da tese de doutoramento.

REFERENCIAS

BACHELARD, Gaston. A poética do espaço. 2 ed. São Paulo: Martins Fontes. 2008.

BAITELLO JUNIOR, Norval. A serpente, a maçã e o holograma. São Paulo: Paulus. 2010

FLUSSER, Vilém. O mundo codificado. São Paulo: Cosac Naif. 2007

GROENSTEEN, Thierry. O Sistema dos Quadrinhos. 1ed. Rio de Janeiro: Marsupial. 2016 HOCKE, Gustav R. Maneirismo: O mundo como labirinto. 3ed. São Paulo: Perspectiva. 2005 MCLUHAN, Marshall. Os meios de comunicação como extensões do homem. 3ed. São Paulo: Cultrix. 1971.

WERTHEIM, Margaret. Uma história do espaço: de Dante à Internet. Rio de Janeiro: Jorge Zahar. 2001