Portal de Conferências da UnB, I Jornada Discente de Pesquisa em Comunicação - PPGCom FAC/UnB (2017)

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POR QUE DIALÉTICA?
Pedro Arcanjo Matos

Última alteração: 2019-06-13

Resumo


Estudante de Mestrado da Faculdade de Comunicação da Universidade de Brasília (UnB); Servidor da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes)

Resumo: O artigo pretende estabelecer uma defesa do Método Dialético para pesquisa em Comunicação, a partir especialmente dos conceitos de historicidade, totalidade e contradição. O texto busca articular, portanto, Teoria Crítica e o Método Dialético como não opostos a uma prática de rigor científico mais apurado.

Palavras-chave: Dialética; Metodologia; Comunicação

Apresentação e objetivos

A complexidade dos objetos comunicacionais demanda metodologias complexas para sua compreensão. Entre as diversas características que marcam esses objetos, não parece ser possível abarcar plenamente a Comunicação, se não a colocarmos dentro dos fluxos e dinâmicas da historicidade, o lócus próprio da dialética (DEMO, 1995).

A localização histórica pode, assim, oferecer um retrato dinâmico do fenômeno já que “toda formação histórica está sempre em transição” (Idem, 1995). É importante então compreendê-lo no uso, dinamicamente, permeado de polos de conflito e fundado na unidade de contrários.

A concepção dialética busca a essencialidade da prática histórica ao lado da teoria, sem aceitar disjunção (idem, 1995). Assim, se toda prática é inevitavelmente ideológica assim como toda atuação humana histórica é intrinsecamente política, o olhar para a práxis da Comunicação, tanto para o discurso, parece fundamental. “A história concreta nunca é o que a utopia sonha, o que a teoria constrói, mas é o possível concretamente, a maneira de acontecer” (Idem, 1995).

Referencial Teórico

Se o objetivo de uma pesquisa em Comunicação é propor a apreensão da realidade de maneira dinâmica, complexa e não-linear, o momento interpretativo pode se projetar ir além de uma simples comparação de resultados. Tal articulação dialética só é possível sob a compreensão específica de dois conceitos: totalidade e contradição.

O estabelecimento de relações micro-macro, específico-geral, local-global parte da compreensão que essas são instâncias conectadas. Trata-se, como afirma Henri Lefebvre (1975), da lei da interação universal, em que todos s fenômenos estão em relação com os demais, nada é isolado. Uma das séries de leis que formam a bases do método dialético para o filósofo francês.

Analisar é recortar, desmembrar, dividir. A compreensão dialética não se opõe a essa fase da pesquisa, mas propõe que a análise e a separação sejam momentos anteriores à síntese e à relação com a totalidade. Há espaço e momento para a fragmentação, o reducionismo e o quantitativo, mas o objetivo é a compreensão maior permitida pela síntese. A compreensão do total não pode ser, entretanto, a de uma realidade estática, mas sim de um espaço de constante disputa, interação e luta. Ou, simplesmente, vivo. Por isso, é central uma compreensão específica sobre a contradição trabalhada por essa tradição do pensamento. "A dialética é ciência que mostra como as contradições (...) passam uma na outra, (...) não como coisas mortas, petrificadas, mas como coisas vivas, móveis, lutando uma contra a outra em e através de sua luta." (LEFEBVRE, 1975, p. 192)

Nesse movimento eterno de opostos, fica evidente que não cabe exorcizar a contradição, mas antes recebê-la de maneira positiva, já que é por meio da interação dialética de contrários que é possível o progresso do pensamento. Para Lefebvre, essa noção se expressa na lei do desenvolvimento em espiral, em que a superação das contradições só acontece pelo aprofundamento das mesmas. “Ao passo que a contradição pode ser percebida enquanto erro, se se pensar na construção de uma verdade sólida e intocável, a dialética vê a própria contradição que é também uma negação como caminho de análise” (COSTA, 2014).

De maneira basilar a essa noção de interação de contrários dentro de uma totalidade, mais uma vez há a força da materialidade. Isso significa que um estudo sobre a sociedade não pode pretender colocar a dinâmica social como um acontecimento fora e acima dos indivíduos, como pretende parte da sociologia (LEFEBVRE, 1975).

Resultados Parciais

Este artigo se alinha a autores contemporâneos que têm pensado a Teoria Crítica e o Método Dialético como não opostos a uma prática de rigor científico mais apurado. Pelo contrário, o compromisso com a captação mais adequada da realidade social e com seu tratamento prático (DEMO, 1995) seria o caminho mais propriamente dialético de abordagem dos fenômenos.

Ou ainda, esse trabalho pretende se filiar a perspectiva que enxerga a distinção entre pesquisa científico-administrativa e pesquisa crítico-reflexiva como dialeticamente transacionável (RUDIGER, 2016). A vinculação de métodos empíricos à pesquisa administrativa e seus interesses estratégicos não significa que os métodos não possam ter serventia para a reflexão sociológica.

Referências

COSTA, Everaldo Batista et al. Lógica Formal, Lógica Dialética: Questão de Método em Geografia, in Geo UERJ. Rio de Janeiro - Ano 16, nº. 25, v. 1, 1º semestre de 2014. Disponível em <http://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/geoue> Acesso em 18 de junho de 2016.

DEMO, Pedro. Metodologia científica em Ciências Sociais. 3a edição revista e ampliada. São Paulo, 1995.

LEFEBVRE, Henri. Lógica formal/lógica dialética. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1975

RUDIGER, Francisco. Ciência, reflexão e crítica nos estudos de mídia. in LOPES, Maria Immacolata Vassallo de (org.) (2016). Epistemologia da comunicação no Brasil : trajetórias autorreflexivas. São Paulo: ECA-USP.