Portal de Conferências da UnB, I Jornada Discente de Pesquisa em Comunicação - PPGCom FAC/UnB (2017)

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A HOMOFOBIA NO ESPORTE: UM EXEMPLO DE APLICAÇÃO DE ANÁLISE DE DISCURSO NO FUTEBOL BRASILEIRO
Luiz Fernando Rodriguez Lemes

Última alteração: 2019-06-13

Resumo


Mestrando do Programa de Pós-graduação em Comunicação da Universidade Federal de Goiás (PPGCOM/UFG) na linha Mídia e Cidadania. Trabalho orientado pela professora do PPGCOM/UFG Dra. Ana Carolina Temer

Resumo: Esta proposta de artigo pretende apresentar princípios e procedimentos para a análise de discurso francesa, além de destacar um exemplo de aplicação do método através de entrevista concedida pelo atleta Richarlyson ao Programa do Porchat sobre homofobia no futebol. Palavras-chave: Análise de Discurso; Entrevista; Homofobia; Metodologia; Princípios.

A Análise de Discurso e a homossexualidade no futebol

Casos de intolerância e homofobia são constantes no futebol por se tratar de um esporte que reforça a masculinidade e a virilidade entre praticantes e torcedores. Comportamentos que não seguem padrões heteronormativos do esporte sofrem perseguições e restrições dentro e fora dos estádios. Essa situação explica a inexistência de casos de atletas proeminentes que assumiram a homossexualidade no futebol brasileiro, destacando-se apenas jogadores de equipes sem expressão nacional, como o goleiro Messi, que atua no Alecrim de Natal, do Rio Grande do Norte.

Diante desse cenário, discursos no contexto futebolístico são construídos a partir de condições de produção específicas e a posição ocupada pelo sujeito que fala (ORLANDI, 2009). Portanto, esta proposta pretende nortear o analista iniciante no sentido de elucidar princípios e procedimentos da análise de discurso de linha francesa por meio de levantamento bibliográfico. Para tanto, no final deste trabalho será apresentado um exemplo de aplicação do método em uma entrevista televisiva concedida pelo atleta Richarlyson (que mesmo afirmando não ser homossexual sofre com perseguições e insinuações homofóbicas) ao Programa do Porchat, da Rede Record.

A entrevista ocorreu em abril de 2017, cerca de um mês antes da apresentação de Richarlyson ao Guarani Futebol Clube, equipe de Campinas, interior de São Paulo, já que um dos objetivos desta análise é compreender os motivos que levaram parte da torcida bugrina a ter reação homofóbica ao jogar bombas no estádio Brinco de Ouro da Princesa, propriedade da equipe campineira, durante entrevista coletiva do atleta. A escolha do Programa do Porchat também é significativa por se tratar de um programa de entrevistas onde o convidado tem liberdade para expressar suas opiniões de maneira descontraída, além de ser a última entrevista do atleta antes de sua apresentação no Guarani.

Dada essa seleção, partimos para a identificação das formações discursivas que ressaltam os principais sentidos da entrevista sobre a homossexualidade no futebol. O material de 4’38” foi transcrito com destaque para a descrição dos conteúdos verbal e paraverbal por meio da convenção de transcrição GIID-CLUNL (adapt. JEFFERSON, 2004).

Com isso, esta proposta pretende compreender aquilo que foi dito e o que não foi dito, buscando identificar as principais condições de produção do discurso (sujeito e situação) e os interdiscursos presentes na construção discursiva. Para alcançar esse objetivo, utilizaremos uma “análise do processo de significação” (ORLANDI, 2009, p. 78) por meio de paráfrases e sinonímias, expondo “diferentes formulações do mesmo dizer sedimentado” (ORLANDI, 2009, p. 36).

A análise de discurso busca compreender como um objeto simbólico produz sentidos. Porém, cada trabalho apresenta suas particularidades por atrair diferentes conceitos mobilizados pela formulação da questão-problema (ORLANDI, 2009). O analista também deve compreender que o uso da linguagem é exterior à língua “que envolve aspectos histórico-ideológico-sociais, saberes adquiridos quer pela prática cotidiana, quer pela escolarização, saberes que o analista deve apreender em seus estudos” (BRANDÃO, 2012, p. 21).

Ao longo do trabalho, busca-se evidenciar que, na análise de discurso, o sujeito é “assujeitado ao coletivo” (CAREGNATTO e MUTTI, 2006, p. 681), ou seja, é apenas um ser interpelado pela ideologia e, submetido às condições de produção e ocupando determinadas posições, nada faz além de interiorizar e reproduzir discursos, apesar de ter a ilusão de autonomia em relação ao que fala.

REFERÊNCIAS

BRANDÃO, Helena Nagamine. Enunciação e Construção do Sentido. In: FIGARO, Roseli (ORG). Comunicação e Análise do Discurso. São Paulo: Contexto, 2012. p. 19-44. CAREGNATO, Rita Catalina Aquino; MUTTI, Regina. Pesquisa Qualitativa: análise de discurso versus análise de conteúdo. Texto Contexto Enferm, Florianópolis, p. 679-684, out./dez. 2015.

JEFFERSON, Gail. Glossary of transcript symbols with an introduction. In.: LERNER, Gene H. Conversation Analysis: studies from the first generation. Amsterdam: John Benjamins, 2004, p. 13-31.

ORLANDI, Eni P. Análise de Discurso: princípios e procedimentos. 8a ed. Campinas: Pontes, 2009.