Portal de Conferências da UnB, I Jornada Discente de Pesquisa em Comunicação - PPGCom FAC/UnB (2017)

Tamanho da fonte: 
APLICANDO BOURDIEU: DA TEORIA AO MÉTODO
Alberto Marques

Última alteração: 2019-06-13

Resumo


Doutor em comunicação pela Universidade de Brasília e professor da Universidade Católica de Brasília

Resumo: Este trabalho visa expor o método de análise estruturalista construtivista de Pierre Bourdieu. Para o nosso paper, a proposta subsidia um olhar mais amplo a pesquisas sociais. Como metodologia, utilizamos a revisão de literatura.

Palavras-chaves: Bourdieu; método, estruturalista construtivista

Este artigo tem como objetivo apresentar a proposta teórica-metodológica chamada de “estruturalista construtivista” (structuralist constructivism) ou “estruturalismo genético” de Pierre Bourdieu (1998). O método propõe a existência de estruturas objetivas, independentes da consciência e da vontade dos agentes e sustenta que elas são produto de uma gênese social dos esquemas de percepção, de pensamento e de ação. Existe, nesse contexto, um contínuo na construção das estruturas, das representações e das práticas (THIRY-CHERQUES, 2006).

O estruturalismo bourdieusiano apresenta particularidades. Com o termo, o sociólogo quer dizer que existem no mundo social, e não apenas nos sistemas simbólicos (linguagem, mito, etc.), estruturas objetivas: os agentes são “[...] capazes de orientar ou coagir suas práticas e representações” (BOURDIEU, 1998, p. 149), o que não quer dizer que essas práticas e representações sejam sempre conscientes.

O pensamento de Bourdieu vai se diferenciar de outros pela importância que ele confere à observância da prática dos agentes e ao interesse pelos diversos fenômenos sociais, não se restringindo somente às relações de coerção que esses agentes impõem. Bourdieu prescinde do conceito de sujeito, ao empregar a ideia de agente. Para ele, à medida que atuam e que sabem, os indivíduos se tornam agentes, dotados de senso prático e de um sistema de preferências, classificações, e percepção que é adquirido (THIRY-CHERQUES, 2006).

O autor refuta também o determinismo e a estabilidade das estruturas e entende que as ações, sejam as mais pessoais, não pertencem ao sujeito e sim “[...] ao sistema completo de relações nas quais e pelas quais elas se realizam” (THIRY-CHERQUES, 2006, p. 29). Por meio dessa concepção, a posição de Bourdieu se distancia tanto do subjetivismo, o qual não considera que as condutas individuais também possuem uma origem social, quanto do estruturalismo, que refuta os aspectos relacionados aos indivíduos.

Por construtivismo, o sociólogo diz que existe de um lado uma gênese social dos esquemas de percepção, pensamento e ação que são constitutivos e forjam as estruturas objetivas e independentes referidas acima. Ele vai chamar esse ponto de habitus18. Destaca também que existe um outro lado, que são as estruturas sociais, chamados por ele de campo. Esses dois pontos, habitus e campo, são centrais na teoria bourdieusiana. São constituídos também por uma sólida relação de interdependência. O habitus é estruturado pelo campo, o campo é constituído pelo habitus. A estrutura social, internalizada e incorporada, forma o habitus, ao passo que o campo é habitus exteriorizado e objetivado (VANDENBERGHE, 1999, p. 49).

A concepção do autor é voltada a um olhar crítico e ao descortinar de uma articulação social, pois a partir de um construtivismo fenomenológico “busca na interação entre os agentes (indivíduos e grupos) e as instituições encontrar uma estrutura historicizada que se impõe sobre os pensamentos e ações” (THIRY-CHERQUES, 2006, p. 30). Tal entendimento está em consonância com a nossa proposta de estudo, ao considerar que o “estruturalismo construtivista” defende que as mais variadas ideias são tributárias à observância da condição de produção.

Destacamos que a aplicação empírica da teoria bourdieusiana mostra-se sistemática, tendo em vista que “a teoria científica apresenta-se como um programa de percepção e de acção só revelado no trabalho empírico em que se realiza” (BOURDIEU, 1998, p. 59). Sua proposta parte da ideia de que a dinâmica social acontece no interior de um campo em que os agentes e grupos possuem disposições específicas (habitus).

Referências Bibliográficas

BOURDIEU, Pierre. O poder simbólico. Bertrand, Rio de Janeiro, 1998.

THIRY-CHERQUES, Hermano Roberto. Pierre Bourdieu: a teoria na prática. Revista de Administração Pública, v. 40, n. 1, p. 27-55, jan./fev. 2006.

VANDENBERGHE, Frédéric. The real is relational: an epistemological analysis of Pierre Bourdieu’s generative structuralism. Sociological Theory, v. 17, n. 1, p. 32-67, 1999.