Portal de Conferências da UnB, I Jornada Discente de Pesquisa em Comunicação - PPGCom FAC/UnB (2017)

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DISCURSO, GÊNERO E POLÍTICA: O JORNAL CORREIO BRASILIENSE E AS REPRESENTAÇÕES DE ROUSSEFF NO PODER
Tatiana Amorim

Última alteração: 2019-06-13

Resumo


Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade de Brasília (PósCom/UnB), sob orientação da professora Dra. Liliane Machado

Resumo

O estudo pretende analisar as estratégias discursivas do Jornal Correio Brasiliense (página Brasil/Política) ao retratar o percurso de Dilma Rousseff no poder (2011-20014/2015-2016).

Palavras-chave: Discurso jornalístico. Estratégia discursiva. Representação social. Política.

O estudo aqui proposto pretende analisar as estratégias discursivas do Jornal Correio Brasiliense durante os dois mandatos presidenciais de Dilma Rousseff, com o foco na atuação desse discurso nas representações sociais - que servem de guias para a interpretação e construção da realidade, na qual os meios de comunicação se constituem como local de circulação das representações no mundo cotidiano (JODELET, 2001).

Temos também o fato de Rousseff ser a primeira mulher a assumir a presidência da República. Como a mídia trabalhou este fato em suas notícias em relação ao governo? Em “A tecnologia do gênero” Laurentis (1994) aponta que gênero é uma representação construída ao longo dos tempos e, essa construção, também se faz por meio de sua desconstrução. Dessa forma, pretendemos compreender como o discurso jornalístico atuou ao noticiar o governo Dilma na construção dessa representação.

A mídia está presente no cotidiano, mediando nossas concepções de mundo. Filtra e molda a atualidade por meio de suas representações, “fornecendo critérios e referências para a condução da vida diária, para a produção e a manutenção do senso comum” (SILVERSTONE, 2005, p. 20). No caso do discurso jornalístico temos ainda que levar em consideração a legitimidade do locutor. Um lugar de fala que traduz imparcialidade, neutralidade e objetividade, valores-guia da autoimagem do jornalismo e dos jornalistas (MIGUEL; BIROLI, 2010). Lugar de fala privilegiado e disputado por camadas e agentes sociais diversos onde “a confiança é um acordo tácito entre o consumidor final e a mídia, um vínculo no qual está subjacente a aceitação das regras de produção como legítimas” (MARTINO, 2003, p. 60).

Ao entendermos o jornalismo como um campo social pouco autônomo e com regras frágeis frente aos campos econômico e político (BOURDIEU, 1997) percebemos que seu funcionamento está subordinado a outros campos sociais, o que pode nos oferecer um olhar diferente ao buscarmos compreender o discurso jornalístico durante a estada de Rousseff no poder.

A pesquisa tem como corpus o discurso jornalístico da página Brasil/Politica do jornal Correio Brasiliense a respeito dos mandatos de Dilma Rousseff. No intuito de reduzir este corpus inicial de 4.945 matérias (publicadas durante os dois mandatos de Rousseff), dividimos o período dos governos Dilma em três fases: construção (janeiro de 2011-agosto de 2011); legitimação (janeiro de 2013- agosto de 2013) e queda (janeiro de 2016 – agosto de 2016), reduzindo para a quantia de 2.206 notícias.

O primeiro passo da análise contará com a análise de conteúdo, que nos permitirá dividir as notícias em categorias (BARDIN, 2016). Após este processo será realizada a análise de discurso das notícias selecionadas – com base nos preceitos da análise de discurso de linha francesa (PECHEUX, 2006; FOUCAULT, 1999) - para determinarmos como o jornal representou o percurso de Rousseff à frente do país. As análises serão realizadas tendo em mente que os discursos nunca estão completos, finalizados e que as representações socias (inclusive as de gênero) “circulam nos discursos, são carregadas pelas palavras, veiculadas nas mensagens e imagens mediáticas, cristalizadas nas condutas e agenciamentos materiais ou espaciais” (JODELET, 2001).

Referências

BARDIN, Laurence. Análise de conteúdo. São Paulo: Edições 70, 2016.

BOURDIEU, P. A miséria do mundo. Petrópolis, RJ: Vozes, 2003.

BOURDIEU, Pierre. Sobre a Televisão. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1997.

FOUCAULT, Michel. A ordem do discurso. São Paulo: Loyola, 1999.

GERALDES, Elen Cristina ... [et al.]. Mídia, Misoginia e Golpe. – 1. ed. – Brasília: FAC-UnB, 2016.

JODELET, Denise. Representações Sociais: um domínio em expansão. In: As Representações Sociais. Rio de Janeiro: Eduerj, 2001.

LAURETIS, Teresa de. A Tecnologia do Gênero. In: Tendências e Impasses: o feminismo como crítica da cultura. Org.: HOLLANDA, Heloísa Buarque de. Rio de janeiro, Rocco, 1994.

MARTINO, Luís Mauro Sá. Mídia e poder simbólico: um ensaio sobre comunicação e o campo religioso. São Paulo: Paulus, 2003.

MIGUEL, Luís Felipe; BIROLI, Flávia. A produção da imparcialidade: A construção do discurso universal a partir da perspectiva jornalística. In: RBCS Vol. 25 n° 73, junho/2010.

PECHEUX, Michel. O discurso: estrutura ou acontecimento. Trad. Eni P. Orlandi. São Paulo: Pontes, 2006.

SILVERSTONE, Roger. Por que estudar a mídia? São Paulo: Loyola, 2002.