Portal de Conferências da UnB, I Jornada Discente de Pesquisa em Comunicação - PPGCom FAC/UnB (2017)

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DELINHAMENTOS EPISTÊMICOS NA REFLEXÃO DO SABER METODOLÓGICO COMUNICACIONAL
Daiani Ludmila Barth

Última alteração: 2019-06-08

Resumo


Jornalista e Doutoranda em Comunicação e Sociedade no Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade de Brasília (UnB), com orientação prof. Dr. Pedro Russi. Professora Assistente no Departamento de Jornalismo da Universidade Federal de Rondônia (Unir) - campus Vilhena. E-mail: daiani.barth@gmail.com.

Resumo: Trata-se de reflexão epistêmica acerca de metodologia ao longo do século XX advinda das Ciências Humanas e Sociais, as quais conformam práticas metódicas adequadas à pesquisa de Comunicação.

Palavras-Chave: epistemologia; metodologia; comunicação.

Arranjos e construções acerca de metodologia ocorrem ao longo do século XX e conformam práticas métodicas adequadas à pesquisa de Comunicação. Jensen & Jankowski (1993) situam três períodos de configurações metodológicas advindas da epistemologia das Ciências Humanas e Sociais. O primeiro ocorre de 1890 a 1930, com o desenvolvimento da Antropologia e os estudos de sociedades “primitivas”, cuja referência fundamental situa-se em Malinowski (1978) e o início do departamento de Antropologia e Sociologia da Universidade de Chicago (BECKER, 1996). Nesse contexto, prosperam a etnografia, a observação participante, a história de vida, a entrevista e o estudo de caso. Além disso, no auge da Escola de Chicago, desenvolve-se o interacionismo simbólico (JOAS, 1999; BLUMER, 1980), na prática do relato autobiográfico, na utilização de documentos pessoais, jornais diários, documentos públicos, painéis de discussão e conversas (GOLDENBERG, 2007). A profusão metódica advinda de objetos centrados no humano e no social, concentra um momento de debate epistemológico importante. É no Círculo de Viena que se encontram cientistas preocupados com o enfoque quantitativo, reforçando o método como resultado da experiência empírica na comprovação científica (RICHARDSON, 1999). Na Sociologia estadunidense, tal debate provoca divergências, dividindo os estudos sob influência positivista/funcionalista e o viés humanista representado pela Escola de Chicago (COULON, 1995, p. 25). Emerge um movimento em prol do científico com inspiração positivista, que é quando Jensen & Jankowski (1993) localizam o segundo período de configuração metodológica entre os anos de 1930 a 1960. O protagonismo de Lasswell inicia nessa época, com trabalhos que intentam medir o impacto da comunicação de massas, na expansão da análise de conteúdo (BARDIN, 2009). Durante a 2ª Guerra Mundial e na Guerra Fria, intensifica-se o interesse em publicidade e propaganda, o que colabora para a disseminação de grupos focais como técnica de pesquisa para estudar transmissões de rádio e seus efeitos. A terceira fase caracterizada por Jensen & Jankowski (1993) inicia a partir dos anos 60, na emergência da investigação social interpretativa, com a reorientação do interacionismo simbólico para o estudo de conflitos sociais, onde destacam-se Howard Becker e Erving Goffman. Dessa forma, desenvolve-se a fenomenologia sociológica, a etnometodologia e a etnografia interpretativa (GOLDENBERG, 2007). Aliado a isso, Feyerabend (2007) propõe, no início dos anos 70, a ruptura com o modo de pensar as teorias do conhecimento e elabora a sua famosa crítica ao método científico. Além disso, Morin dá início a publicação de seis volumes de “O método”, onde propõe uma busca da verdade ligada à  investigação da possibilidade dessa verdade (MORIN, 1999, p.16), instigando a construção do pensamento complexo. As contribuições advindas dos três períodos de conformações metodológicas demarcados por Jensen & Jankowski (1993) compõem desdobramentos metódicos adequados aos estudos de fenômenos comunicacionais cujas práticas configuram um recorte de usos até a contemporaneidade (BARTH, 2017). Esse empréstimo de métodos pensados a partir de objetos de pesquisa das Ciências Humanas e Sociais atesta a fragmentação de temas estudados pela Comunicação, bem como a necessidade de formulação conceitual e maior diálogo, fundamentais na construção do saber metodológico comunicacional.

Referências

BECKER, H. A escola de Chicago. Mana, vol.2, n˚.2, Rio de Janeiro. (1996) Disponível:http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104931319960002000 08 Acesso em: 20 set. 2016.

BARDIN, L. Análise de Conteúdo. Trad.: Luís Antero Reto e Augusto Pinheiro. 4ª ed. Lisboa:Edições 70, 2009.

BARTH, D. L. Notas sobre metodologia e o saber comunicacional a partir do viés da Escola de Chicago. Tropos, [S.l.], v. 6, n. 1, jul. 2017. ISSN 2358-212X. Disponível em: <http://revistas.ufac.br/revista/index.php/tropos/article/view/1198>. Acesso em: 24 jul. 2017.

BLUMER, H. A natureza do interacionismo simbólico. In: Mortensen, C. (Org.). Teoria da Comunicação: textos básicos. SP: Mosaico, 1980.

COULON, A. A Escola de Chicago. Campinas, SP: Papirus Editora, 1995.

FEYERABEND, P. Contra o método. São Paulo: Editora UNESP, 2007.

GOLDENBERG, M. A arte de pesquisar. Como fazer pesquisa qualitativa em Ciências Sociais. 8ª ed. Rio de Janeiro: Record, 2004.

JENSEN, K. B. E., & JANKOWSKI, N. W. (eds). Metodologías cualitativas de investigación en comunicación de masas. Barcelona. Bosch Casa Editorial, 1993.

JOAS, H. Interacionismo simbólico. In: Giddens, A. & Turner, J. (orgs.) Teoria Social Hoje. São Paulo: Editora UNESP, 1999, p. 127-174.

MALINOWSKI, B. Os Argonautas do Pacífico Ocidental. Coleção Os Pensadores. São Paulo: Ed. Abril, 1978.

MORIN, E. O Método 3: A consciência da consciência. Trad.: Juremir Machado da Silva. 2ª ed. Porto Alegre: Sulina, 1999.

RICHARDSON, R. J. Pesquisa Social. Métodos e Técnicas. 3ª ed. rev. amp., São Paulo: Atlas, 1999.