Portal de Conferências da UnB, 25º CONGRESSO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA DA UNB E 16º DO DF

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A clínica e a rua: iniciativas autônomas por uma psicanálise popular
RENATA LEAL DE QUEIROZ

Última alteração: 2020-01-31

Resumo


Orientador(a): Silvia Maria Ferreira Guimarães

Resumo:

Introdução- Este trabalho teve como ponto de partida e interlocutor principal de pesquisa o Coletivo Psicanálise na Rua. O principal objetivo da pesquisa foi o de pensar as potências tanto terapêuticas quanto políticas do dispositivo por ele conformado, uma clínica psicanalítica pública e gratuita. O interesse em pesquisar o tema brota da percepção de que há uma crise de saúde mental no Brasil e no mundo, conforme apontam os números alarmantes e crescentes de diagnósticos psicopatológicos e utilização de remédios tarja preta, e de que faltam meios de cuidado psíquico acessíveis às massas da população. Paralelamente a isso, o Brasil vem, desde a ruptura democrática de 2016, caminhando em direção a um cenário que parece em muitos sentidos agravar a desigualdade de riqueza e poder no país, inegavelmente surtindo efeitos sobre o sujeito. O Psicanálise na Rua surge como uma resposta importante a esses processos e ouvi-lo oferece novo insight sobre a questão. Metodologia- O método para a construção do trabalho pode ser explicado principalmente pela descrição de Jeanne Favret-Saada sobre o “ser afetado”. Na minha inserção no campo integrei o Coletivo e participei de todas as suas atividades, especialmente a dos acolhimentos, nos plantões de atendimento, dos passantes que desejavam ser atendidos ou saber mais sobre o Psicanálise na Rua. Ali, ao longo de inúmeras conversas com passantes e analisantes, pude observar e me debruçar sobre os sentidos do projeto. Adicionalmente, conduzi entrevistas semiestruturadas com analistas do grupo. Resultados- A pesquisa possibilitou mapear algumas das principais dificuldades e potências da psicanálise ao tentar se inserir em contextos populares, que, de forma geral, pouco habitou ao longo da história. Essencialmente, elenco duas dificuldades centrais nesse encontro. Em primeiro lugar, a de evitar uma desestruturação ou violência contra o mundo simbólico do sujeito que chega ao dispositivo e, em contrapartida a ela, a habilidade desses sujeitos de integrar a psicanálise aos seus mundos sem qualquer contradição. Em segundo lugar, a dificuldade de escuta decorrente das dinâmicas de exclusão que se presentificam na cena clínica quando o analista e o analisante ocupam lugares sociais tão desiguais. Diante disso, os analistas tem buscado estratégias criativas, que descrevo no trabalho. Discussão/Conclusão- Por fim, argumento que o Psicanálise na Rua, como outras inciativas semelhantes Brasil à fora, vem se apresentando como uma terapêutica em saúde mental cada vez mais próxima do povo, lentamente recriando sua prática e seus sentidos no contexto da rua. Adicionalmente, produz efeitos políticos sobre o espaço público do Conic e da rodoviária, nessa última, especialmente, subvertendo as lógicas mercadológicas e utilitárias de produção que a regem, na medida em que cria um espaço de pausa, em que se pode dar ao luxo da escuta gratuita e desinteressada.


Palavras-chave


Saúde mental; Psicanálise; Clínica de rua; Rua; Política.