Last modified: 2018-12-13
Abstract
Desde os anos 1980, a produtividade da agricultura brasileira cresceu exponencialmente e foi decisiva para que o Brasil ocupe hoje lugar de destaque entre os principais exportadores de commodities agrícolas. Essa presença no mercado internacional conformou o desenvolvimento de um complexo agro-industrial conjugado a um modelo específico de governança agrária com predomínio de uma economia com forte dependência do agroextrativismo. De acordo com Sassen (2016), temos no capitalismo contemporâneo a “combinação de elites predatórias e de capacidades sistêmicas na qual o mercado financeiro é um facilitador fundamental, que empurra na direção de uma concentração aguda” (p. 22). Para ela, essa combinação resulta em formações predatórias, isto é: "capacidades sistêmicas são uma combinação variável de inovações técnicas, de mercado e finanças, mais a permissão governamental. Constituem uma condição que é, em parte, mundial, embora geralmente funcionem de acordo com características dos países, suas economias políticas, leis e governos” ( 2016, p. 23).O objetivo geral deste trabalho é analisar duas características das formações predatórias para entender elementos da economia política da agricultura brasileira atual. A primeira delas refere-se às inovações técnicas, tecnológicas e biotecnológicas desenvolvidas pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) que propiciaram as condições para o avanço do agronegócio no interior do país através de programas como o PRODECER (Programa de Cooperação Nipo - Brasileiro para o Desenvolvimento dos Cerrados). A segunda está na atuação governamental para a "remoção" de barreiras institucionais e promoção da lógica neoliberal nas últimas três décadas e que reforçam a concentração fundiária, a violência no campo e novas formas de expulsões ao impor o agroextrativismo como modelo desenvolvimento. Assim, trabalharemos tanto com aspectos da teoria dos regimes alimentares como do atual regime alimentar corporativo caracterizado pelo poder de monopólio das corporações transnacionais à luz da inovação técnica e da atuação governamental das formações predatórias e, consequemente, das expulsões gerada por tal sistema.