Portal de Conferências da UnB, VI SEMINÁRIO HISPANO-BRASILEIRO DE PESQUISA EM INFORMAÇÃO, DOCUMENTAÇÃO E SOCIEDADE

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Estação Ciência: aprendizagem e desenvolvimento de crianças com deficiência visual
Miriã Alves Ramos Alcântara, Luzia Matos Mota, Beatriz Velame Rios Carvalho Santos, Josileide Ferreira Oliveira, David Daniel Souza Marques

Última alteração: 2017-10-05

Resumo


O objetivo do trabalho é discutir como diferentes perspectivas acerca da cultura - sistema semiótico de regulação - se chocam no processo de construção e organização cognitiva e semiótica de crianças de sete a dez anos com deficiência visual que participam de uma investigação acerca do significado da luz. Integro uma equipe de três pesquisadoras-docentes do IFBA com formação em física, pedagogia e psicologia que, junto a dez estudantes dos cursos de licenciaturas em física, matemática e geografia, coordenam um projeto (“Estação Ciência: um espaço de educação e divulgação sobre luz para o público infantil” – apoio CNPq/MCT/Instituto TIM) que visa estimular o interesse das crianças pela ciência através da participação em atividades sobre a luz, sua natureza, fenômenos e propagação. Vinte crianças vinculadas ao Instituto de Cegos da Bahia e que apresentam diversos graus de deficiência visual participam da pesquisa. Uma pessoa com baixa visão apresenta acuidade visual inferior a 6/60 no melhor olho, com a melhor correção óptica, enquanto a cegueira se refere à acuidade visual abaixo de 3/ 60 no melhor olho, com o uso de correção óptica adequada (OMS, 1992). Seguindo esse critério, estima-se que na população mundial existam cerca de 45 milhões de cegos e 135 milhões de indivíduos com baixa visão (RESNIKOFF; PARARAJASEGARAM, 2001). A deficiência visual em seus diferentes estágios de evolução implica em graus muito diversos de leitura do mundo. Ela foi retratada no documentário “Janela da Alma” (2001) a partir da expressão de renomados artistas que sintetizam a experiência da cegueira-baixavisão-olhar como construção singular do real, ora utilizado como suporte de marcas interpretativas do estudo com crianças. A pessoa deficiente visual apoia-se em outros órgãos sensoriais na construção subjetiva do mundo, e desse modo, constrói uma rede sináptica alternativa para o sistema visual, o qual é definido por possuir, de acordo com Neri, Uzeda e Moreira (2008) “estruturas biológicas capazes de sensibilidade à luz e de formação de sinais neuronais expressos na percepção consciente de imagens” (p.261). O aporte dos sentidos confere ainda a possibilidade de um novo olhar compreensivo que mobiliza barreiras simbólicas pessoais. Problematizar a luz como abstração conceitual e, portanto, signo do tipo campo e proporcionar experiências científicas sobre luz e seus fenômenos para crianças deficientes visuais cria condições reais frente a um aspecto relevante e, em alguns casos, inalcançável do real. No entanto, verifica-se que nesse processo, signos são produzidos pela criança para lidar com a tensão criada pela a abertura para o novo conceito e exige lidar com a reconstrução do passado. Nessas experiências acompanhadas por sentimentos intensos, a criança explora conceitos aos quais as crianças videntes são expostas, particularmente aqueles conceitos fundamentais aprendidos incidentalmente e naturalmente através de pistas visuais. Uma criança cega desde o nascimento será capaz de experimentar a luz de uma forma singular, diversa do modo como alguém com visão parcial ou total faz, mas isso implica em entender a luz e suas referências na vida cotidiana sobre a mesma e seus fenômenos sobre outras bases.

Palavras-chave


Deficiencia visual; ensino de ciências; criança