Portal de Conferências da UnB, VI SEMINÁRIO HISPANO-BRASILEIRO DE PESQUISA EM INFORMAÇÃO, DOCUMENTAÇÃO E SOCIEDADE

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A DISCIPLINA DE ALFABETIZAÇÃO INFORMACIONAL NA FORMAÇÃO DE PROFISSIONAIS DA INFORMAÇÃO: REFLEXÃO SOBRE A PRÁTICA DOCENTE
Renata Braz Gonçalves, Aurora Cuevas-Cerveró

Última alteração: 2017-10-10

Resumo


INTRODUÇÃO

A formação em competência informacional de universitários tem por objetivo formar indivíduos capazes de saber que tipo de informação necessitam, além de saber como localizá-la, avaliá-la e comunica-la de maneira ética. Essa capacitação pode estar prevista no currículo dos cursos como disciplina obrigatória, optativa ou ainda como atividade complementar. No caso de atividade complementar, observa-se a grande incidência de ações desenvolvidas por bibliotecas universitárias.
De maneira geral, os programas de formação em competências informacionais, compreendem conteúdos relacionados a diferenciação entre dado, informação e conhecimento, definição de e uso de fontes de informação, o uso ético da informação, a recuperação da informação em fontes eletrônicas o uso de recursos especializados e a gestão da informação na internet.
No âmbito dos cursos de Biblioteconomia e Documentação, além de trabalhar os aspectos relacionados acima, as disciplinas visam preparar os futuros profissionais da informação para a elaboração de programas de formação em competências informacionais. No que se refere a execução de disciplinas de alfabetização informacional ou competência informacional nos cursos de Biblioteconomia no Brasil e Informação e Documentação na Espanha, constata-se que na Espanha, a inserção da disciplina de Alfabetización informacional está presente em 42% dos 12 cursos existentes. Já no Brasil, embora o tema da competência informacional seja recomendado em documentos oficiais, poucos cursos seguem esta recomendação, pois somente 26% dos 39 cursos existentes possuem disciplinas específicas sobre do tema (MATA, SILVA E MARZAL, 2016).
Esse trabalho se justifica pela constatação de que refletir sobre a prática docente no ensino universitário é uma prática cada vez mais necessária, contudo, cada dia mais rara. A qualidade tem sido disfarçada de quantidade e assim, muitas vezes, ao invés de nos preocuparmos em como nosso estudante vem aprendendo, de que forma podemos realmente contribuir para sua formação, somos obrigados a nos ater em quantos artigos publicamos, quantas horas temos em classe, etc.
Partindo do pressuposto que “a experiência é muito importante, mas a experiência de cada um só se transforma em conhecimento através da análise sistemática das práticas” (NÓVOA, 2009, p.03), este artigo tem por finalidade compartilhar a análise sobre a oportunidade de reflexão sobre a prática docente como professora ajudante na disciplina de Alfabetización Informacional do curso de Master en Información e Documentación, da Facultad de Ciencias de la Documentación da Universidade Complutense de Madrid. Essa oportunidade surgiu com o convite para participar da disciplina enquanto investigava programas de alfabetização informacional desenvolvidos por bibliotecas universitárias, a intenção inicial era conhecer a disciplina, avaliar seu funcionamento a fim de propor criação de disciplina similar no Brasil. Porém, a partir do primeiro encontro, decidiu-se registrar as classes e as reflexões sobre as mesmas. Dessa forma, buscou-se responder a seguinte questão: Como ocorre o processo de ensino-aprendizagem em disciplinas de alfabetização informacional em cursos de pós-graduação em Informação e documentação?

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

A pesquisa caracteriza-se como de abordagem qualitativa tendo utilizado como técnicas de coleta de dados a análise documental e a observação participante. Esta última pode ser compreendida como estudos para compreender comportamentos, estilos de vida, religiões, culturas, consumo do conteúdo midiático, etc. A estratégica básica é a observação in loco dos fenômenos que se quer compreender.
Para análise documental, utilizamos como fonte, o plano de ensino e o material didático disponibilizado no ambiente virtual de aprendizagem Moodle bem como os trabalhos finais elaborados pelos estudantes. Como sujeitos observados tivemos as docentes e os discentes da disciplina. As aulas foram gravadas em áudio mediante autorização da professora responsável e estudantes.

RESULTADOS E ANÁLISE

A disciplina se desenvolveu em encontros semanais com duração de três horas, no período de março a junho de 2016. A disciplina iniciou com nove estudantes oriundos de distintas áreas como História, Filosofia, História da Arte, Filologia e Documentação, por exemplos. Oito estudantes eram espanhóis e um turco, que participava da modalidade Erasmus.
Antes de iniciarem as classes, a professora responsável disponibilizou à professora ajudante todas as informações sobre a disciplina (conteúdos, atividades e avaliações) no ambiente virtual de aprendizagem Moodle e se colocou à disposição para receber sugestões de alteração, inclusão de conteúdos, etc.
A disciplina foi organizada em seminários, nos quais cada estudante, além das professoras, apresentava um texto previamente estabelecido. Durante a disciplina, também recebemos três convidados externos que palestraram sobre investigações que estavam relacionadas à Alfabetização Informacional. O conteúdo da disciplina contemplou aspectos teóricos e práticos sobre ALFIN em diferentes níveis escolares bem como em espaços não escolares, como bibliotecas públicas, instituições prisionais e centros de atendimento a idosos. Como foco central da disciplina, identificou-se a diminuição das brechas sociais, através da inclusão digital e informacional. Os estudantes, ainda que inicialmente inseguros em relação ao tema mostraram-se sempre participativos e a apropriação dos conteúdos pode ser observada progressivamente.
Em decorrência do pequeno número de estudantes, as aulas eram desenvolvidas ao redor de uma mesa de reuniões, o que facilitava o diálogo entre os participantes. Assim, paralelamente ao conteúdo da disciplina, foram discutidos outros temas indiretamente relacionados, como, por exemplo, o sistema de ensino espanhol, mudanças no ensino superior, eleições nacionais, bolsas de estudos e situação financeira do país e dos próprios estudantes. Para além disso, os estudantes compartilharam seus medos, angústias e anseios em relação ao mercado de trabalho.
Foi proposto aos estudantes o a elaboração de um planejamento de formação de competências informacionais, tarefa que os estudantes demonstraram mais dificuldade para execução. Crê-se que seria interessante que os mesmos tivessem vivenciado uma experiência como público-alvo de uma formação em competência informacional para posteriormente planejarem uma ação desse tipo, ainda mais porque parte dos estudantes nunca havia planejado uma atividade formativa em decorrência de serem egressos de cursos de bacharelado.
Como atividade de avaliação final da disciplina, os alunos escreveram um artigo sobre um dos temas abordados nas aulas e foi organizado um seminário internacional no qual os estudantes espanhóis apresentaram seus trabalhos finais por web conferência à estudantes da Universidade de Brasília – UNB.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Observar o desenvolvimento da disciplina de Alfabetización Informacional no curso de Master de Información y Documentación da Universidad Complutense de Madrid, ora procurando olhar sob a ótica do aluno, ora sob a ótica do professor, permitiu a reflexão sobre a dinâmica dos processos de ensino e aprendizagem na educação básica e universitária. Ainda que existam diferenças entres os sistemas brasileiro e espanhol de ensino superior, nota-se que as práticas tanto de professores quanto de alunos são muito semelhantes, assim como seus anseios e preocupações. Acredita-se que esse tipo de disciplina, bem como a metodologia de trabalhos desenvolvida deveria estar presente em todos os cursos de Biblioteconomia em nível de graduação e pós-graduação a fim de que a exclusão social possa ser minimizada a partir do desenvolvimento de competências informacionais e a da inclusão digital.

REFERÊNCIAS

ALMEIDA, J. R., & LOPES, F. R. B. A docência no ensino superior: a construção do conhecimento e a necessidade das práticas de pesquisas e extensão. e-Gaia Conhecimento. v.. 1, n.1, 2014.

GÓMEZ HERNÁNDEZ, J. A.; BENITO MORALES, F. De la formación de usuarios a la alfabetización informacional: Propuestas para enseñarlas habilidades de información. Scire: Representación y Organización del Conocimiento, v.7, n.2, p. 53-83. 2001. Disponível em: . Acesso em 06 jun. 2017.

MATA, M.L.; SILVA CASARIN, H.C. y MARZAL, M.A. A competência informacional como disciplina curricular na formação de bibliotecários na Espanha e no Brasil. Anales de Documentación. v. 19, n. 2. 2016, Disponível em: http://dx.doi.org/10.6018/analesdoc.19.2.222171.

NÓVOA, Antônio. O professor pesquisador e reflexivo. www.tvebrasil.com/br/salto/entrevi, 09/10/2009. Entrevista concedida em 13 de setembro de 2001.

PERUZZO, Cicilia M. Krohling. Pressupostos epistemológicos e metodológicos da pesquisa participativa: da observação participante à pesquisa-ação. Época III. V. 23, n. esp., Colima, primavera 2017. p. 161-190.

SOUSA SANTOS, Boaventura de. A Universidade no século XXI. São Paulo: Cortez. 2010.

Palavras-chave


Ensino Superior; Ciência da Informação; Competência Informacional; Docência;