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GUARDA MEMORIAL ARQUIVÍSTICA: TRAÇOS CULTURAIS DE PRAXIS E EPISTEMOLOGIA CUSTODIAL ENTRE NOVA DISCUSSÃO PARADIGMÁTICA
Valéria Santos Silva, Marcos Lima Galindo, Sandra Veríssimo Soares

Última alteração: 2015-06-20

Resumo


INTRODUÇÃO
“Saber é poder” (CHAUI, 2010): abstração que se tornou senso comum – axioma social –validando o conhecimento como ideal humano. A citação transforma experiências em memórias seja como utopia hegemônica na Modernidade ou relativismos contemporâneos da “desmaterialização do documento e partilha dos saberes no ciberespaço” (HOLANDA, 2012). A competência humana para contextualizar suas abstrações, portanto, habilitou à construção de ferramentas – “técnica e lógica” (GALINDO, 2009). Instrumentou estratégias à “evolução da espécie” (UEXKÜLL, 2004), da existência nas cavernas à realidade nos sítios virtuais. Reitera-se que o desejo humano por conhecimento é anterior ao ideal moderno e se encontra na natureza evolutiva do ser humano, por entre os nós da “teia da vida” (CAPRA, 2013). A prática de guarda documental, portanto, – como um procedimento sociocultural das experiências individuais e coletivas – ressignifica-se no tempo e espaço. A narrativa, contudo, enfoca a Modernidade pela preeminência dessa conjuntura na organização informacional como potência à produção de conhecimento racional do método científico. Essas representações histórico-sociais, no âmbito da guarda memorial, mesclam-se, com vivos tons, à realidade contemporânea e, não raro, geram obsolescência e esquecimento aos “estoques memorial” (BARRETO, 2002). Esse artigo originou-se de pesquisa no mestrado acadêmico da PPG CI UFPE e, assim, perfila continuidades de praxis e epistemologia custodialista na contemporaneidade – entre mudanças e continuidades – trazendo à discussão reflexões da Rede Memorial Pernambuco (RMP). A RMP é elencada na investigação para pensar novo paradigma à guarda memorial arquivística, pois esse estudo fundamenta-se na “pós custodia” (SILVA et al, 2009).
OBJETIVOS
A análise tem por objetivos qualificar a natureza das práticas de custódia memorial, frente à complexidade (MORIN, 2011) inerente a toda realidade social, identificar permanências de ações que impõem esquecimento aos estoques memoriais arquivísticos expondo rotineiramente “Tragédias da Memória” (GALINDO, 2005, p. 4). Propõem também conhecer a guarda memorial - ao modo pós-custodial – da Rede de Colaboração Interinstitucional Memorial Pernambuco.
METODOLOGIA
Para contemplar a proposição dos objetivos essa análise utilizou como instrumentos de pesquisa adotou-se revisão bibliográfica, documentação não verbal midiática e institucional, além de entrevistas – não estruturadas, aplicadas a sujeitos envolvidos em ações de guarda memorial arquivística. O método adotado para dar sentido aos significados dos dados coletados é a análise de conteúdo fundamentada pelas reflexões de Bardin (2009), que ancorada na abordagem sociocognitiva contempla, segundo MORIN (2011), o contexto complexo de uma realidade.
RESULTADOS
Os processos culturais da Modernidade não foram desconstruídos com a ocorrência da crise da Modernidade, pois “o modernismo tem sido a ampliação esquizofrênica da transformação de pedras, plantas e animais em produtos do homem e em sua civilização moderna” (BUARQUE, 2014). Há questões universais socioambiental, como a cultural, com representações locais, vistas apenas pelo crivo da política econômica global neoliberal de natureza (a) sistêmica e fragmentada. Não há reflexões conjuntas das nações e governanças para pensarem o ser humano em interação com o ambiente em “ecologia profunda” (CAPRA, 1997, p.25). Essas abstrações podem expor o quão Moderno é o mundo Contemporâneo.
Dessas fundamentações, cultura, como bem patrimonial público, investimento a ser protegido, não tem tido a prioridade necessária nas agendas governamentais. Da análise de conteúdo em documentação institucional identifica-se que no Brasil os investimentos para preservação arquivística memorial acenderam nos últimos anos. Segundo levantamento técnico do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), na última década os financiamentos para preservação de acervos memoriais cresceram (BALBI, et al, 2014). Esse “novo” patamar ocorre da aprovação de projetos, via seleção pública, mas também em valor monetário oferecido pelas “operações não reembolsáveis para economia da cultura” (BALBI, op cit). Há também o Ministério da Cultura (Minc) com o Edital Afro-brasileiro ( 2014), destarte, são ações ainda longe do caráter de proteção, amparo e seguridade pertinente aos entes memoriais nacionais. Concomitante às parcimoniosas, ou ausente, política públicas, às práticas arquivísticas custodialistas são dinâmicas sociais ainda em curso, e transita entre inovação técnica e lógica de preservação memorial da RMP. As proposições vêm dos também dos fragmentos das entrevistas e identificam um leque de causas-efeitos nessa complexa realidade, na qual a praxis de guarda memorial contemporânea impregnada de epistemologia arquivística historicista da modernidade.
CONSIDERAÇÕES
Considera-se que o Estado como “gestor maior” da memória, ausenta-se, apesar das ações descritas. Reflete-se ainda não ser senso comum a valoração da memória, nem a guarda ao modo pós-custodial. Que a realidade é complexa, pois expõe o custodialismo como prática, mas que a RMP, por seus princípios norteadores, surge como possibilidade de mudança cultural.
REFERÊNCIAS
BALBI, et.al. O setor de acervos memoriais brasileiros e os dez anos de atuação do BNDES: uma avaliação a partir da metodologia do Quadro Lógico. Disponível em: http://www.bndes.gov.br/SiteBNDES/bndes/bndes_pt/Institucional/Publicacoes/Consulta_Expressa/Tipo/Revista_do_BNDES/201406_01.html Acesso em 08 maio, 2015.
BARDIM. Laurence. Análise de conteúdo. 4. ed. Lisboa: Edições 70, 2009.
BARRETO, Aldo Albuquerque A. Os agregados de informação: memórias, esquecimento e estoques de informação. Data Grama Zero - Revista de Ciência da Informação, Rio de Janeiro, v. 1 n .3, jun. 2000. Disponível em: http://www.brapci.ufpr.br/documento.php?dd0=0000000789&dd1=44786. Acesso: 18 set. 2012.
BUARQUE, Cristovam. A Morte da Modernidade. Disponível em: Acesso em: 28 nov. 2014.
CAPRA, Fritjof. A teia da vida: uma nova compreensão científica dos sistemas vivos. São Paulo: Cultriz, 1997.
CHAUI, Maria Helena. Filosofia moderna. Disponível em: http://www.educadores.diaadia.pr.gov.br/arquivos/File/2010/artigos_teses/FILOSOFIA/Artigos/filo_moderna.pdf. Acesso em: 12 de maio 2015.
GALINDO, Marcos. Patrimônio memorial e instituições públicas no Brasil. In: BARRIO, Angel Espina; MOTTA, Antonio; GOMES, Mário Hélio (Org.). Inovação cultural, patrimônio e educação. Recife: Massangana, 2009. p. 251-264.
GALINDO, Marcos. Tragédia da Memória. Massangana, Recife, v. 2, n.1, p. 57-62, 2005.
HOLANDA, Lourival. Memória: multiplicidade e permanência. 2012. Disponível em:http://www.repositorios.ufpe.br/revistas/index.php/IRIS/article/view/7/12. Acesso em: 10 jan. 2013.
MORIN, Edgar. Introdução ao pensamento complexo. 4. Ed. Lisboa; Porto Alegre: Sulina, 2011.
SILVA, Armando Malheiro et al. Arquivística: teoria e prática de uma Ciência da Informação. 3. ed. Porto: Afrontamento, 2009. v. 1.
UEXKULL. A teoria da Umwelt de Jakob von Uexküll. Disponível em: http://revistas.pucsp.br/index.php/galaxia/article/viewFile/1369/852. Aceso em 12 maio 2015.
VASCONCELOS, Maria José Esteves de. Pensamento sistêmico: o novo paradigma da ciência. 10. ed. Campinas: Papirus, 2013.

Palavras-chave


Guarda Memorial; Arquivística; Custodialismo; Pós-Custodia; Rede Memorial Pernambuco (RMP).