Introdução: A espiritualidade se configura como uma dimensão de proteção fundamental do ser humano.A crise sanitária instaurada pela pandemia da COVID-19 intensifica as vulnerabilidades sociais existentes, principalmente para as pessoas que têm convivência com o alcoolismo crônico. Assim, a importância da espiritualidade é inquestionável no atual cenário pandêmico. Objetivo: A pesquisa objetivou compreender como homens alcoolistas vivenciam a sua espiritualidade por meio de atitudes e expressões de sentimentos em tempos de pandemia da COVID-19. Metodologia: Trata-se de uma pesquisa qualitativa, exploratória, descritiva, fundamentada na História Oral de Vida, realizada no período de março a abril de 2021. A pesquisa foi realizada com cinco homens que frequentavam o Centro de Atenção Psicossocial Álcool e outras Drogas (CAPS AD) no interior da Bahia, Brasil. Foram critérios de inclusão: ter idade acima de 18 anos, ser consumidor do álcool há pelo menos 2 anos, estar em convivência familiar, e aceitar voluntariamente a participação na pesquisa. A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia – UESB com o parecer nº 3.233. 649. As entrevistas foram realizadas virtualmente, através do computador, utilizando-se o Google Meet, programa de videoconferência do Google. As informações obtidas dos participantes foram coletadas por meio de entrevista semiestruturada, sendo gravadas, transcritas e posteriormente analisadas através da análise temática de conteúdo. Resultados e Discussão: Nos relatos dos homens alcoolistas a importância da espiritualidade na vida deles, principalmente referente ao contexto atual da pandemia. Neste sentido, os alcoolistas expressaram a crença em Deus, por meio da fé, como modo de proteção de si e da família com relação à contaminação pela Covid 19. Além disso, os relatos mostram ainda a vivência da espiritualidade, no sentido de sentir-se na companhia de Deus, do criador, como possibilidade de enfrentamento da solidão, consequente das medidas sanitárias de enfrentamento à pandemia, a exemplo do distanciamento social, que levou também à redução da participação em atividades religiosas. O exercício da religiosidade foi enfatizado nas descrições como atributo da espiritualidade, que contribuí para a redução do consumo do álcool, sendo assim um fator de proteção e redução de danos. Entretanto, as recaídas constituem um entrave para a vivência da religiosidade ao favorecer o desenvolvimento de conflitos na relação de convivência comunitária. A ausência de diálogos quanto às crenças religiosas e a vivência do alcoolismo ou mesmo da espiritualidade em ambientes sociais como a família e a igreja cooperam para a ocorrência do sentimento de decepção que contribue ainda mais para o isolamento social potencializado pelas medidas sanitárias da pandemia do Covid 19. Considerações finais: O atual contexto pandêmico evoca questões multidimensionais nas relações de convivência do homem alcoolista com a família e comunidade intensificando o sentimento de insegurança, medo e angústias frente ao contágio pelo Covid 19, que podem ser suavizados mediante o respeito e incentivo à vivência da espiritualidade como mobilizados de esperança e reconstrução de projetos felicidade, o que redimensiona o sentido da vida e constitui elemento fundamental enquanto estratégia de redução de danos para o enfrentamento da pandemia.