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USO DO REIKI NO TRATAMENTO ONCOLÓGICO DE MULHERES NO CLIMATÉRIO: UMA REVISÃO INTEGRATIVA
Fernanda Silva Monteiro, Maíra Mendonça Kali Ferreira Mendonça, Gabriel de Oliveira Mendonça Soares, Claudinalle Farias Queiroz Souza, Aurélio Molina Costa

Última alteração: 2021-07-10

Resumo


 

Introdução: O câncer é a segunda maior causa de morte no Brasil, com cerca de 292 mil novos casos em mulheres em 20201. É um grupo de patologias de causas multifatoriais que possui diversas abordagens de tratamento, como quimioterapia, cirurgia, radioterapia ou hormonioterapia. E o/a paciente com câncer sofre tanto da doença quanto do tratamento agressivo que recebe seja no âmbito físico, seja nos aspectos psicossociais2. Frequentemente os efeitos colaterais das intervenções terapêuticas podem impactar diretamente na qualidade de vida dos pacientes submetidos a estes tratamentos, dificultando assim, a manutenção de suas atividades no dia a dia. As Práticas Integrativas e Complementares em Saúde – “PICS” possuem riscos baixos, ou quase nulos, de causar alguma maleficência ao paciente, podendo o/a paciente realizar suas sessões em ambiente extra-hospitalar e tem um excelente perfil custo-benefício-malefício. O Reiki é considerado, pelo Ministério da Saúde, desde 2017, uma prática integrativa e complementar em saúde, sendo uma técnica não invasiva, caracterizada pela imposição de mãos sobre o paciente, a poucos centímetros de distância de seu corpo, com movimentos coordenados, tornando o paciente mais consciente do processo terapêutico pelo qual ele está submetido3-4. Estudos sugerem que a prática do Reiki é capaz de ocasionar, em pacientes submetidos ao tratamento oncológico, melhorias no bem estar, e alívio de alguns dos sintomas mais frequentes, tais como dor, ansiedade, náuseas e vômitos5. O climatério é o momento fisiológico de transição entre o período reprodutivo e o não reprodutivo consequente às alterações hormonais que culminam em falência ovariana. E essa fase da vida feminina pode impactar a qualidade de vida das mulheres por estar associada a sintomas físicos, psicológicos e sociais, sendo definida como o período que se inicia entre os 35-40 anos, indo até cerca dos 60 anos e que inclui a menopausa (amenorreia de 12 meses ou mais), décadas essas que podem vir acompanhada de sinais e sintomas intensos, caracterizando a Síndrome Climatérica. E essa síndrome em pacientes que por qualquer razão foram submetidas a histerectomia ou ooforectomias (retirada do útero e/ou dos ovários), pode revelar a existência desse período6. Sabendo-se do relevante impacto do climatério na saúde da mulher, e do potencial agravamento dessa condição na paciente em tratamento oncológico, nos parece importante verificar se o uso das PICS, como o Reiki, tem lugar como terapêutica auxiliar para o alívio de sintomas físicos e emocionais, melhoria da qualidade de vida e no enfrentamento do climatério em mulheres sob tratamento oncológico. Objetivo: Realizar levantamento das publicações científicas que relatam impacto do uso do Reiki, uma das Práticas Integrativas e Complementares reconhecidas pelo Ministério da Saúde, no tratamento oncológico de mulheres no climatério. Metodologia: Trata-se de uma revisão de literatura que, segundo Gil (2002), utiliza material já elaborado, permitindo ao investigador a cobertura de uma gama ampla de fenômenos7. A busca de artigos foi realizada na base de dados PUBMED, tendo como pergunta norteadora: “Quais os impactos do uso do Reiki na saúde de pacientes climatéricas em tratamento oncológico?” As palavras-chaves utilizadas foram selecionadas através dos descritores padronizados do DeCS (Descritores em Ciência da Saúde), compatíveis com o MeSH (Medical Subject Headings), sendo elas: “therapeutic touchandneoplasmsandtherapeutics”. Foram encontrados 40 artigos. Foram excluídos artigos publicados antes do ano de 2011, artigos relacionados a pacientes pós-tratamento oncológico, relacionados prioritariamente às outras PICs e artigos indisponíveis em acesso aberto na íntegra. Da amostragem de 40 artigos selecionados pelo título, apenas 24 se adequaram a todos os critérios após leitura do resumo. Dentre estes, após a leitura completa do artigo, optou-se por excluir aqueles que não tinham o público feminino exclusivamente, ou com participantes em que a faixa etária não pode ser considerada como climatério. Desenvolvimento: Foram selecionados cinco artigos publicados entre os anos de 2011 e 2021. Destes, três possuíam nível de evidência III, um deles possuía nível IV e o outro, nível V. Um dos estudos, intitulado “Um estudo piloto randomizado, controlado por placebo, do impacto do Reiki na fadiga em pacientes com câncer de mama submetidas a radioterapia8”, foi publicado no ano de 2013. É um ensaio clínico, nível de evidência III, que investigou os efeitos do Reiki na fadiga de pacientes com câncer de mama durante tratamento oncológico. Essa pesquisa foi realizada com 70 mulheres (somente 41 completaram o estudo), em tratamento radioterápico em um hospital universitário do Tennessee, Estados Unidos, com idades variando entre 21 e 75, com idade média de 51 anos (portanto, na sua média, climatéricas), divididas em dois grupos: placebo ou intervenção. Nessa pesquisa foram realizadas intervenções semanais de 45 minutos cada, por 5 a 7 semanas, e as participantes respondiam semanalmente, a instrumentos validados utilizados para avaliar os níveis de fadiga e qualidade de vida. O grupo que recebeu uma terapia placebo (sham terapy) onde o aplicador ficava a uma grande distância do sujeito, anulando a eficácia da aplicação, apresentou maiores reduções na fadiga quando comparado com as mulheres que receberam a intervenção e não foram encontradas diferenças estatisticamente significantes entre os grupos em relação à qualidade de vida das participantes. É importante ressaltar que foi realizada apenas uma única sessão de Reiki semanalmente, o que pode ter limitado a eficiência da intervenção. Além disso, o grupo intervenção esteve em contato, durante o estudo, com pelo menos três diferentes “aplicadores” da técnica, enquanto o grupo placebo teve contato com apenas dois “aplicadores”, o que pode ter enviesado o estudo. Ao final, os autores recomendam que essas duas fragilidades não sejam repetidas em futuras pesquisas. O segundo estudo selecionado nessa revisão tem por título, “Caso controle, mono-center, open-label: estudo piloto para avaliar a viabilidade de Reiki na prevenção da radiodermite em mulheres com câncer de mama sob radioterapia adjuvante9”, com nível de evidência IV, aborda o uso do Reiki, três vezes por semana, em 49 mulheres, todas com idades entre 58 e 63 anos, submetidas a radioterapia de mama, em Ontário, província do Canadá. Essa pesquisa, publicada no ano de 2015, avaliou nas mulheres, os graus de toxicidade dermatológica, qualidade de vida, humor e fadiga. Em relação à radiodermite, as participantes envolvidas no grupo de intervenção apresentaram melhores resultados, o que permitiu que todas concluíssem o tratamento, embora as diferenças não terem sido estatisticamente significantes. Em relação aos demais parâmetros avaliados, não foram demonstrados melhores resultados no grupo intervenção quando comparado ao grupo controle. Os autores concluíram que embora o Reiki seja é uma técnica viável de ser empregada, e que pode ser útil tanto no tratamento da toxicidade cutânea induzida por radiação como nas outras variáveis investigadas, não foram encontradas beneficência no uso do Reike nas pacientes participantes desse estudo. O terceiro estudo com título “Reiki para náuseas em pacientes com câncer de mama recebendo quimioterapia: compondo um tratamento10”, foi publicado no ano de 2016. O desenho dessa pesquisa foi o de um ensaio clínico, com nível de evidência III, que buscou compreender como o Reiki é utilizado em pacientes com câncer de mama, sob tratamento quimioterápico, para uma padronização e avaliações confiáveis da efetividade do Reiki. Cento e oito pacientes iranianas, com idades variando entre 18 e 65 anos (média de 49.7) foram alocadas, de forma randomizada, em três grupos (intervenção, placebo e controle), cada um com 36 participantes. Foram avaliadas a duração, intensidade e frequência das náuseas. O grupo que utilizou o Reiki apresentou uma redução, estatisticamente significante, nos três parâmetros avaliados. Baseados nesses achados os autores concluíram que o Reiki é eficaz no tratamento das náuseas induzidas pela quimioterapia e deve ser utilizado como método alternativo nas pacientes desejosas de utilizar essa prática integrativa e complementar. O quarto estudo incluído nessa revisão, com nível V de evidência, foi uma pesquisa qualitativa, de corte transversal, com entrevistas gravadas e codificadas, realizado com 10 mulheres de Huddersfield, Inglaterra, com idade média de 63 anos, denominado “Um estudo exploratório sobre a experiência com o Reiki em mulheres com câncer11”. Essa pesquisa foi publicada no ano de 2016 e apontou resultados positivos na manutenção da qualidade de vida, no enfrentamento do câncer e no alívio de sintomas físicos, psíquicos e emocionais entre essas pacientes, que receberam no mínimo duas sessões de Reiki. Inicialmente, foi constatado que, a maioria das participantes possuía limitado conhecimento prévio acerca do Reiki, baixo ceticismo e baixas expectativas sobre possíveis benefícios dessa PIC, e sua prática foi aceita por ter sido uma recomendação profissional ou de conhecidos. Evidenciou-se, entre os relatos, que o alívio da tensão emocional foi o benefício mais presente. Também constatou-se a sensação de relaxamento, tranquilidade e quietude mental em relação ao câncer e demais problemas. As pacientes também relataram sensações físicas e psíquicas durante a prática como: visualização de cores, alívio da dor, formigamento, “quentura”, energia fluindo pelo corpo e sensação de bem-estar. Os benefícios físicos, emocionais e cognitivos permaneceram até o dia seguinte à terapia e, em alguns casos, por até uma semana após a sessão. Também foi referido melhorias no sono, na depressão, na ansiedade, na dor e nos níveis de energia. Portanto, o Reiki pareceu impactar positivamente na manutenção da qualidade de vida destas pacientes, auxiliando na esperança e melhoria do enfrentamento do câncer, afastando o medo e pensamentos negativos, ajudando na autoconfiança e na positividade e em outros aspectos da vida. Ao final do estudo as pacientes tinham uma visão diferente e mais positiva sobre o Reiki e muitas relataram querer continuar a utilizar a prática após o fim do tratamento. Os autores concluíram que esses achados sugerem que o Reiki pode ser um instrumento benéfico na autogestão de questões relacionadas a qualidade de vida das mulheres com câncer. O último artigo incluído nessa revisão foi o estudo publicado no ano de 2017 com o título “Auto eficácia para lidar com o câncer melhora o efeito do tratamento do Reiki durante a fase pré-cirúrgica em pacientes com câncer de mama12”, considerado como sendo nível III de evidência. Essa pesquisa focou-se no papel da auto eficácia no enfrentamento do câncer, que pode ser entendida como convicção, crença e confiança em si mesmo no enfrentamento dessa doença e como aliada aos possíveis benefícios da prática do Reiki. Participaram dessa investigação 110 pacientes do Instituto Nacional do Câncer de Nápoles, Itália, com câncer de mama durante a fase pré-cirúrgica, com idade média de 43,7 anos, separados em grupo de intervenção (55 participantes), através de uma única sessão de Reiki de 60 minutos, e grupo controle (55 participantes). Mas não fica claro se as participantes foram randomizadas ou não. O estudo comparou os parâmetros: ansiedade, através da escala State-Trait Anxiety Inventory, humor pelo o Profile Mood States Inventory e nível de auto eficácia, através do formulário The Cancer Behaviour Inventory-Brief-Italian form. Foram identificadas diferenças estatisticamente significantes em relação aos dois grupos sendo que as pacientes com maior auto eficácia foram mais aptas em manejar sua ansiedade e em reduzir estados negativos de humor do que as pacientes com menor auto eficácia. E, em relação ao Reiki, as pacientes mais confiantes em sua habilidade de enfrentamento da doença apresentaram um maior efeito benéfico dessa Prática Integrativa Complementar, tanto na ansiedade quanto no humor. Os autores concluíram que do ponto de vista prático, o estudo fornece resultados interessantes para os profissionais da saúde. Consideração: Parte dos achados dessa revisão da literatura sugerem que o Reiki pode ter benefícios para esse recorte específico da população, isto é, mulheres no período climatérico e em tratamento oncológico, particularmente na redução de náuseas. Ela também aponta para a possibilidade de outros impactos positivos do Reiki nessas mulheres como, por exemplo, alívio de tensão, relaxamento, tranquilidade, aumento na sensação de bem-estar, melhora no sono, redução de depressão e ansiedade. Entretanto, ressaltamos que esses possíveis impactos positivos do uso do Reiki, complementar ao tratamento oncológico de mulheres climatéricas, precisam ser verificados por mais estudos dada à escassez de publicações no recorte proposto, assim como de limitações metodológicas. Por outro lado, sabedores do importante potencial de malefício do climatério para a saúde da mulher, do potencial agravamento dessa fase nas mulheres em tratamento oncológico e levando-se em conta o perfil custo-benefício-malefício das PICs, podemos afirmar que os resultados dessa revisão integrativa suportam uma maior oferta e utilização do Reiki para essas pacientes.


Palavras-chave


Reiki; Neoplasia; Terapêutica.