Última alteração: 2021-06-17
Resumo
Introdução: Com o avanço da medicina científica ocorreu uma desvinculação entre o corpo e a mente e entre ser humano e natureza, promovendo um distanciamento entre as práticas médicas e a espiritualidade no processo de saúde-doença. Todavia, mesmo havendo dificuldade em se diferenciar os termos espiritualidade e religiosidade, muitas pessoas encontram nessas áreas uma fonte de conforto que podem ajudar no equilíbrio mental e auxiliar na recuperação. Assim, a Organização Mundial da Saúde aceita que a espiritualidade vem contribuindo com a saúde psíquica, social e biológica dos indivíduos, diminuindo tempo de internação e facilitando o enfrentamento a situações complicadas. Porém, são poucas as escolas médicas do Brasil que possuem em sua grade curricular disciplinas que lidam com esses temas e, assim, os acadêmicos têm receio/dificuldade de abordar o tema com os pacientes. Objetivos: Realizar uma medida multidimensional da espiritualidade/religiosidade dos acadêmicos de Medicina da Universidade de Uberaba e construir um perfil dos ciclos básico e clínico (internato) do curso em relação a esses aspectos. Metodologia: Realizou-se um estudo exploratório, descritivo, quali-quantitativo, a partir da coleta de dados de alunos dos ciclo básico (1º ao 4º período) e do ciclo clínico (9º ao 12º período) utilizando-se o questionário validado Medida Multidimensional Breve de religiosidade/espiritualidade BMMRS-p. Resultados: A análise preliminar dos dados mostra que em relação ao critério de auto-avaliação quanto a se considerar uma pessoa religiosa, 45% dos alunos do ciclo clínico se consideram muito ou moderadamente religiosos e, 55%, pouco ou nem um pouco religiosos. Quanto a esse mesmo critério, 39% dos alunos do ciclo básico se consideram muito ou moderadamente religiosos e, 61%, pouco ou nem um pouco religiosos. Os resultados baseados em um segundo critério de auto-avaliação quanto a se considerar uma pessoa espiritualizada, no ciclo clínico 22% dos alunos se consideram muito ou moderadamente espiritualizados e 78%, pouco ou nem um pouco espiritualizados. No ciclo básico, 15% se consideram muito ou moderadamente espiritualizados e 85%, pouco ou nem um pouco espiritualizados. Dessa forma, os dados preliminares mostram que não há diferença significativa quanto a esses critérios entre os ciclos básico e clínico, no entanto análises adicionais estão em andamento. Considerações: Sabe-se que há uma dificuldade em diferenciar os termos espiritualidade e religiosidade, sendo que, para o primeiro, ainda não há um consenso, mas muitos autores indicam que esteja associado com a forma que os indivíduos lidam com as situações da vida, enquanto religiosidade está associada a práticas em instituições para leitura e orações. Em virtude de estudos demonstrarem que a espiritualidade é capaz de favorecer o bem-estar do ser humano, o Conselho Federal de Medicina, associado ao código de ética médica, posiciona-se de que não deve haver incompatibilidade entre fé e razão, crença e o científico, desde que os princípios básicos da medicina sejam respeitados. Contudo, muitos acadêmicos não conseguem abordar esse tema com os pacientes em consequência do pouco contato com essa área durante a graduação e, assim, deixam de contribuir para resultados positivos em relação ao tratamento dos pacientes.