Última alteração: 2021-07-10
Resumo
Introdução: A pandemia de COVID-19 inaugurou mundialmente uma nova realidade, desnudando inseguranças individuais e criando tensões coletivas. Com a necessidade de conter a propagação do vírus, o isolamento social foi uma das medidas mais recomendadas, já que a contaminação se dá pelo contato com indivíduos infectados. O impacto do isolamento social vivido na pandemia vai além da suspensão de aulas presenciais, a medida que interfere na rotina de jovens e adolescentes e pode tornar-se um fator desencadeante de sofrimento psíquico e transtornos mentais nesses indivíduos. A adolescência é um período da vida onde é comum a vivência de conflitos advindos das mudanças físicas, psicológicas e nas relações interpessoais. Objetivo: O presente trabalho objetivou investigar a incidência de tristeza, falta de energia e concentração, ideação suicida e comportamentos de autoextermínio associados a pandemia de COVID-19, em adolescentes que cursam o ensino médio técnico integrado em período integral. Metodologia: Trata-se de um estudo do tipo observacional com a aplicação de questionário virtual a adolescentes de uma instituição de ensino da cidade de Goiânia, após assentimento dos estudantes e consentimento dos pais ou responsáveis para menores de 18 anos. O questionário, aplicado em abril e maio de 2021, abordou questões relativas a dados sociodemográficos, sintomas de depressão e autoextermínio. O projeto foi aprovado pelo comitê de ética em pesquisa pelo parecer 4.596.409. Discussão e Resultados: Participaram do estudo 158 adolescentes. A média de idade dos estudantes incluídos foi de 16,5 anos (± 1,96). Dos participantes da pesquisa, 80,4% eram do gênero feminino, 18,3% masculino e 1,3% preferiram não identificar o gênero. Durante o isolamento social, a maior parte dos estudantes, 51,9% disseram frequentemente sentir tristeza, 48,1% alegaram falta de energia e 16,5% reportaram ter dificuldade de concentração nas suas tarefas. Além disso, 24,0% dos estudantes responderam que pensam em se machucar intencionalmente. A ideação suicida foi identificada em 24,7% dos estudantes, que alegaram pensamentos de autoextermínio. Por fim, 28,5% dos estudantes relataram que “viver tem sido difícil”. Dos indivíduos que apresentaram os sintomas descritos acima, mais de 66% alegaram que a pandemia afetou financeiramente sua família. Os resultados deste estudo mostraram uma alta frequência de sintomas de depressão, ansiedade e auto extermínio entre adolescentes. Este fato pode estar associado a perda de entes queridos, conflitos na convivência familiar e diminuição de renda, provocados pela pandemia de COVID-19 em muitas famílias. Considerações: Este estudo é de grande relevância, pois demonstra que as condições sociais e econômicas impostas pela pandemia podem impactar diretamente a saúde mental de adolescentes. Foi constatada ideação suicida em quase 25% dos estudantes. Essa condição tem se tornado cada vez mais comum nessa fase da vida e não deve ser desprezada. Portanto, a saúde mental na adolescência deve ser prioridade de políticas públicas de curto e longo prazo, levando em consideração o impacto provocado pela pandemia de COVID-19, a fim de garantir um dos direitos fundamentais do adolescente, a saúde integral.