Última alteração: 2021-07-08
Resumo
Introdução: O isolamento social é proposto como conduta para conter o avanço da pandemia de COVID-19. As implicações dessa súbita mudança de rotina são amplas e repercutem nos diversos âmbitos de interação social, saúde física e mental, entre todas as faixas etárias. Com a mobilidade restrita ao lar, a interrupção de aulas presenciais e atividades grupais, é possível que haja mudanças no comportamento alimentar, bem como no peso corporal de adolescentes1. Objetivos: Avaliar alterações no peso corporal, no hábito alimentar, quanto ao local de preparo e consumo de refeições delivery durante o isolamento social. Metodologia: O estudo do tipo observacional foi realizado nos meses de abril e maio de 2021, com estudantes adolescentes do ensino médio integrado ao técnico de uma instituição pública federal, por meio de um questionário virtual auto preenchível. Foram solicitados o consentimento e assentimento dos responsáveis no caso dos menores de 18 anos. A pesquisa foi aprovada por parecer ético sob número 4.596.409. Resultados e Discussão: Obteve-se a participação de 158 adolescentes, sendo 80,4% do gênero feminino. A média de idade foi de 16,5 anos (± 1,96). A maioria (71,5%) da amostra refere que a pandemia de COVID-19 afetou negativamente a vida financeira de sua família; 53,8% apontam que algum membro da família recebeu o auxílio emergencial do governo federal. A respeito do peso corporal, observou-se que apenas 21,5% da amostra o manteve durante o período pandêmico, sendo que 57,6% alegam ter aumentado o peso. Estes achados estão aumentados se comparados a adolescentes do ensino público municipal de Curitiba-PR, onde 29,3% da amostra refere ganho ponderal2. Acerca dos hábitos alimentares, 18,3% dos estudantes refere manutenção dos mesmos durante o período de isolamento social, 58,2% alegam que houve piora e 25,9% referem melhora no padrão habitual de consumo de alimentos. A literatura confirma este achado, com piora do hábito alimentar entre adolescentes da América Latina e Europa, com aumento do consumo habitual de alimentos ultraprocessados durante a pandemia3. Sobre a forma de preparo e local de realização das refeições, observou-se que 51,8% dos sujeitos alegam que não houve mudança neste aspecto e 43,0% referem que houve aumento do preparo e consumo de refeições no ambiente doméstico. Em contrapartida, 38,0% referiram aumento do consumo de refeições delivery, que são opções rotineiramente muito calóricas e de baixa densidade nutricional, portanto, o ambiente dos aplicativos de entrega de comida pode contribuir para o consumo de alimentos não saudáveis e aumento de peso. Considerações: O isolamento social parece contribuir para piora do hábito alimentar e aumento de peso corporal entre adolescentes, podendo estar associadas a alterações na rotina, na renda familiar e a aspectos emocionais. Torna-se imprescindível o desenvolvimento de estratégias de garantia da segurança alimentar e nutricional nos territórios e a difusão das práticas integrativas de cuidado com a saúde física e mental entre a população jovem no cenário pandêmico.