Última alteração: 2021-07-01
Resumo
Introdução: A relação entre a espiritualidade e a saúde mental é conturbada. Enquanto a psiquiatria surgia e crescia como uma ciência, a espiritualidade era posta como um contraponto. Na prática psiquiátrica, a espiritualidade faz parte do contexto cultural no qual ocorre a doença mental. Evidências que sustentem uma relação positiva entre esses dois constructos possibilitam uma maior qualidade de vida e bem-estar ao paciente. Por outro lado, uma distorção da espiritualidade também pode levar a resultados contrários, consubstanciados nas crenças negativas, que podem intensificar sintomas ansiosos e depressivos.¹ Objetivos: O presente trabalho tem o objetivo avaliar se existe relação entre espiritualidade e saúde mental. Metodologia: Trata-se de uma revisão de literatura narrativa, na qual a busca de artigos foi realizada nas bases de dados MEDLINE e LILACS, utilizando os seguintes descritores: espiritualidade AND “saúde mental”. Por fim, foram encontrados 330 artigos publicados nos últimos 10 anos (de 2011 a 2021), dos quais foram incluídos 30 artigos. Desenvolvimento: Destes estudos, 18 concluíram que há relação positiva entre espiritualidade e saúde mental, 11 sugeriram haver potencial relação ou tangenciaram ao tema e 1 chegou a resultados ambíguos. Uma metanálise de 67 estudos da área de língua alemã que investigou a relação entre religiosidade/espiritualidade (R/E) e saúde mental concluiu que as associações entre tipos R/E negativos e saúde mental mais baixa são fortes.² Um outro estudo, desta vez de corte transversal, realizado através da entrevista de 129 indivíduos de uma população vulnerável do Pantanal brasileiro, concluiu que níveis mais elevados de espiritualidade foram associados a menos ansiedade e sintomas depressivos.³ Sendo assim, é notável que há uma relação direta entre as variáveis aqui estudadas. Ainda nesse cenário, uma revisão da literatura que avaliou a capacidade da religião e espiritualidade de beneficiar ou prejudicar a saúde mental dos crentes chegou à seguinte conclusão: a religião e a espiritualidade podem promover a saúde mental por meio de enfrentamento religioso positivo, comunidade e apoio e crenças positivas; contudo, também podem ser prejudiciais por meio de enfrentamento religioso negativo, mal-entendidos e falta de comunicação e crenças negativas.¹ Considerações: Portanto, é possível concluir que há, de fato, relação entre espiritualidade e saúde mental. Destarte, o psiquiatra e os profissionais de saúde, de modo geral, devem apresentar um interesse respeitoso na espiritualidade do paciente, visto que valorizar sua cultura contribui para o seu bem-estar e sua maior adesão ao tratamento.¹ Nesse contexto, é necessária a inclusão da abordagem espiritual na prática de atividades que visem contribuir para a saúde mental e o enfrentamento da doença. Tal incorporação será relevante não só no estímulo à saúde mental, como também no combate à sua ausência, visto que será possível rastrear e intervir no enfrentamento religioso negativo. Referências: (1) WEBER, S. R.; PARGAMENT, K. I. The role of religion and spirituality in mental healthCurrent Opinion in PsychiatryLippincott Williams and Wilkins, , 2014. (2) GONÇALVES, L. M. et al. Spirituality, Religiosity, Quality of Life and Mental Health Among Pantaneiros: A Study Involving a Vulnerable Population in Pantanal Wetlands, Brazil. Journal of Religion and Health, v. 57, n. 6, p. 2431–2443, 1 dez. 2018. (3) HODAPP, B.; ZWINGMANN, C. Religiosity/Spirituality and Mental Health: A Meta-analysis of Studies from the German-Speaking Area. Journal of Religion and Health, v. 58, n. 6, p. 1970–1998, 1 dez. 2019.