Última alteração: 2018-11-07
Resumo
INTRODUÇÃO: Pacientes idosos são um desafio para a equipe de saúde, pois um mesmo idoso pode apresentar uma série de doenças crônicas, que são acompanhadas de polifarmácia, produzindo regimes terapêuticos complexos. Esses regimes terapêuticos complexos exigem do paciente maior atenção, memória e organização diante dos horários de administração, e ao considerar alguns fatores, como a ocorrência de declínio cognitivo e limitações físicas, observa-se maior dificuldade no gerenciamento dos medicamentos e na adesão ao tratamento pelos idosos. Nesse contexto, o objetivo desse estudo foi identificar as dificuldades e desafios enfrentados pelos idosos no gerenciamento de medicamentos de uso contínuo. METODOLOGIA: Os dados foram coletados a partir dos prontuários e das entrevistas com pacientes atendidos no ambulatório de geriatria do Centro Multidisciplinar do Idoso, no Hospital Universitário de Brasília, no período de março a julho de 2018. Foram analisados o perfil sociodemográfico dos pacientes e as características dos medicamentos de uso contínuo (nome, dose utilizada e tempo de tratamento). Por fim, a partir de um questionário adaptado do Brief Medication Questionnaire, os idosos responderam algumas perguntas sobre a capacidade de gerenciar/conduzir o seu tratamento medicamentoso, incluindo a necessidade do auxilio na administração dos medicamentos, dificuldades de deglutição de comprimidos, problemas de adesão aos medicamentos. A pesquisa foi aprovada pelo CEP e os participantes aceitaram participar do estudo por meio da assinatura do TCLE. Os dados foram consolidados e analisados no programa EXCEL®. RESULTADOS: Foram entrevistados 30 pacientes, em sua maioria, mulheres (67%), casados (40%), residentes com familiares (77%) no Distrito Federal (73%). Apenas 40% dos idosos possuíam o ensino médio completo e 20% eram analfabetos. A renda familiar mensal da maioria desses idosos não ultrapassava 2 salários mínimos (70%), assim como a maioria não possuía plano de saúde (80%). As morbidades com maior prevalência foram do grupo de doenças do aparelho circulatório (22%), justificando a maior frequência do uso de medicamentos do sistema cardiovascular (32%). As dificuldades no gerenciamento dos tratamentos medicamentosos mais relatadas foram: esquecimento (46%) e dificuldade para ler os rótulos das embalagens (46%). Apesar da maioria dos pacientes se declarar em condições de gerenciar seus medicamentos, mais da metade não soube informar o nome ou a dose de alguns medicamentos, evidenciando uma incoerência no discurso e apontando para ocorrência de erros no momento da administração ou não-adesão ao tratamento. DISCUSSÃO/CONCLUSÃO: Os dados sociodemográficos assemelharam-se aos encontrados em outros estudos, nos quais a maioria da população é formada por mulheres, evidenciando uma maior preocupação com a saúde e maior autocuidado por parte das idosas. Assim como identificado na população idosa brasileira, as doenças crônicas cardiovasculares acompanhadas do uso de medicamentos contínuos para seu controle foram as mais prevalentes neste estudo. As dificuldades mais relatadas no uso dos medicamentos evidenciaram as fragilidades inerentes ao envelhecimento e indicaram a necessidade de acompanhamento e monitoramento no manejo dos tratamentos farmacológicos pelos familiares e profissionais de saúde. Desta forma, devem ser elaboradas estratégias, como uso de alarmes, pill box, tabelas de horários, pictrogramas e etiquetas, para evitar o esquecimento e facilitar a identificação dos medicamentos, favorecendo a autonomia e autocuidado dos idosos.