, VI Conference of BRICS Initiative of Critical Agrarian Studies

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Cadernetas Agroecológicas: relações de trabalho, cultura e gênero no movimento agroecológico
Andréia Anschau, Marcela Vecchione Gonçalves

Last modified: 2018-12-13

Abstract


Com o advento da Revolução Verde foi dada prioridade para a monocultura de larga escala, resultando em precarização da agricultura camponesa. Esse processo modernizador apresenta um viés de exclusão de pequenos produtores, que não ultrapassam barreiras para a entrada de seus produtos, geradas por custos de transição, dado o uso intensivo de maquinários, agrotóxicos e sementes geneticamente modificadas. Sendo assim, gera exclusão e marginalização daqueles não integrados ao modelo dominante de produção, não sendo o tipo de desenvolvimento gerado inclusivo e justo para os povos do campo.  Tal desenvolvimento provocou consequências e efeitos distintos na região do Nordeste Paraense, sendo hoje seu tecido socioespacial resultado de ocupação irregular, que acompanhou a primeira etapa de colonização agrícola na Amazonia, mais recentemente sofrendo com a ação de mineradoras e a expansão da cultura de soja, que provoca expulsões e exclusões dos sistemas produtivos que envolvem a população local, em esquemas de sobreposição de modos de uso da terra. A agroecologia tem sido apontada como solução para conflitos na região, tendo suas bases de reprodução na solidariedade, inclusão social e relações de equidade, com ênfase no papel da mulher na reprodução dos sistemas produtivos locais. Como forma de evidenciar isso, é criada a caderneta agroecológica, tornando visível a produção realizada nos quintais pelo trabalho das mulheres, visibilizando o produtivo não (ou pouco) remunerado – voltado ao autoconsumo, à troca, à doação e à venda. As cadernetas agroecológicas sinalizam que o modo de organização social agroecológico se constrói rompendo a separação entre as esferas produtiva e reprodutiva, promovendo visibilidade do trabalho tido como “doméstico". Este artigo reflete sobre alguns dos resultados de produção sistematizados pelas cadernetas de mulheres de comunidades no Nordeste paraense. O foco esta em como as cadernetas agroecológicas evidenciam a articulação do trabalho e da renda – enfatizando formas de quantificação e qualificação diferentes do modelo presente na economia mainstream – em um ambiente de conflitos latentes, promovendo possibilidades de construção social em torno dessa articulação.


Keywords


Agroecologia; Gênero; Trabalho; Renda; Cadernetas Agroecológicas