A despeito da atenção global à questão ambiental, o Brasil permanece distante em determinar limites na exploração dos seus recursos. Pelo contrário, recentemente algumas medidas aprovadas pelo congresso brasileiro corroboram para o enfraquecimento de uma agenda ambiental no país, reduzindo, por exemplo, os requisitos para licenciamento de barragens, estradas e projetos agrícolas no país. Essas pressões estão diretamente ligadas ao papel desempenhado pelo país no comércio internacional, sobretudo, no que diz respeito às exportações de soja para a China, por exemplo. O posicionamento desses países no tocante à crise ambiental global evidencia as distintas abordagens para lidar com um mesmo problema. Assim, o cenário atual mostra de um lado o Brasil se aproximando, cada vez mais, de um ponto crítico, de outro a China que já se encontra nele. Nesse sentido, este trabalho busca estabelecer uma relação entre a forma como China e Brasil lidam com a questão dos recursos naturais e agricultura, frente às pressões ambientais. Buscamos avançar no sentido de dimensionar os recursos naturais incorporados nas exportações utilizando o consumo de água como parâmetro. A análise foi feita a partir da inserção de parâmetros ambientais (recursos hídricos) em uma matriz de insumo-produto para se chegar a estimativas sobre a intensidade de uso da água nas cadeias produtivas. Assim, a partir de uma “fotografia ambiental” da cadeia produtiva da soja no Brasil até seu destino (as exportações), discutimos os efeitos ambientais dessa relação comercial, intensiva em recursos naturais. A discussão é feita a partir de indicadores que permitem visualizar o percurso e a intensidade da água nas cadeias produtivas do Brasil. Busca-se, com isso, facilitar o desenvolvimento e aplicação de políticas públicas visando a valoração do uso da água e proteção dos ecossistemas. Apenas a soja, principal produto de exportação brasileiro, contribui com cerca de 49,8% da exportação de água incorporada, por volta de 154,8 trilhões de litros de água. Os resultados para a China são bastante distintos, já que a exportação de água compõe apenas uma pequena fatia do volume total consumido no país.

De um lado, o Brasil aposta em um futuro incerto e que acarreta em custos ambientais irreparáveis para participar do comércio internacional. De outro, a China constantemente precisa fornecer respostas políticas para enfrentar a perda de suas terras férteis para um progresso real em direção à meta de sua segurança alimentar, investindo em infraestrutura como irrigação, drenagem, armazenamento, transporte e pesquisa agrícola e reformas institucionais. Assim, os vínculos entre água, população, energia, alimentos e meio ambiente, e as interações entre eles exigem reconhecimento, já que juntos determinarão a segurança alimentar, hídrica e até mesmo o desenvolvimento econômico desses países.